A primeira vez que vi dona Osmarina, ela segurava um quadro em que, escrito em giz, mostrava o que gostaria de ganhar de natal: tinta preta para cabelo e condicionador. Resolvi, então, que seria o padrinho daquela senhorinha vaidosa do lar de idosos de Tijucas. No dia da entrega dos presentes, lá estava ela com uma trança bem feita e uma toalhinha na mão – que usava para conter uma tosse que a incomodava havia dias.
Dois meses depois, encontro Osmarina com visual diferente. Sou chamado ao Lar Santa Maria da Paz porque a minha afilhada do último natal (que apenas queria produtos para cuidar das longas madeixas escuras) estava careca. A tosse, que reclamara dois meses antes, era mais
grave do que ela imaginara. Estava com câncer no pulmão. Iniciou o tratamento e, de início, perdeu todo o cabelo.
Mês passado, numa das visitas que fiz, recebi – como sempre – um olhar desconfiado que ela adorava fazer para ver minha reação preocupada. Quando eu retribuía o olhar com a costumeira frase “O que que tás me olhando assim, dona Osmarina?”, ela soltava aquele sorrisão de sempre. O cabelo já tinha vindo. E já sou intimado a ficar preparado para, em breve, voltar a presentear com tinta de cabelo.
No entanto, no último sábado, ela se foi. Foi sem que ao menos eu pudesse agradecer por tanto carinho, pelos sorrisos que me faziam crescer e pelo olhar desconfiado que nos conectava. Talvez, sendo grata, ela não soubesse que eu era quem deveria dizer “obrigado”. Mas acho que ela sabia o quanto era especial... E que vai deixar saudades! Descansa, minha afilhada.
Cláudio Eduardo de Souza
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