Oito meses atrás, saia nas páginas do DAQUI uma reportagem com o título “O sorriso de Osmarina (na luta pela cura)”, contando a história de uma senhorinha que, sem família, vivia no Lar Santa Maria da Paz. Osmarina Dias tinha 74 anos. Dizia sentir falta de hábitos que tinha na rotina fora da instituição, onde morava havia três anos. “Tento passar o tempo fazendo meu crochê ou vendo televisão”, contou, enquanto abria um parênteses para soltar, entre riso contido e olhar confidente: “adoro o Silvio Santos!”.
De família de agricultores, Osmarina viveu em várias cidades de Santa Catarina. Começou cedo a trabalhar na roça com o pai – no entanto, foi escondido dele que, aos 13 anos, começou a fumar palheiro (só parou este ano, ao descobrir a doença no pulmão). Ainda nova, tentou um relacionamento. Morou junto. Por pouco tempo. Tinha 20 e poucos anos quando, independente, mudou para o interior de Tijucas.
Foi na Itinga que viveu até antes de entrar para o Lar. “Morava com uma colega. Só que eu fiquei doente e ela também, não tinha como ela cuidar de mim. Sinto falta, mas sempre que dá ela vem me visitar”, comentou, destacando que a velha amizade lá do interior foi o que restou de família. De sangue, não tinha ninguém.
No fim do ano passado, não era apenas a tosse que incomodava Osmarina. Além da dificuldade para respirar, mal conseguia dormir. Contou que a dor era tanta que, dependendo de como deitasse na cama, não suportava. Em janeiro foi ao médico, fez exames e descobriu o câncer no pulmão. Começou então o tratamento.
Sobre as dores, no início do tratamento questionei: “já aliviou?”. Ela concordou, com uma daquelas interjeições tipicamente tijucanas, que traduziria num ‘muito’ ou ‘com certeza’. Estava confiante. Sorriu. Se num ato de esconder a tristeza, não sei! Sei que ela sorriu outras tantas vezes. E retribuir o riso era inevitável. Mas, depois de muita luta, precisava descansar. Era hora de partir. Osmarina partiu na madrugada do último sábado.
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