CLÁUDIO EDUARDO DE SOUZA
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“O Kaike ama o Enio, né?”, pergunta a mãe ao menino na cadeira, ainda sem fala e com movimentos limitados. E a resposta vem já durante a pergunta, com um sorriso claro e movimentos na cabeça acenando que “sim, eu amo”. Talvez você já conheça a história de luta pela vida de Kaike. Mas, nesta data em que é celebrado o Dia do Amigo, vamos te apresentar Enio Poli e a história de amizade que protagoniza com Kaike.
Há pouco mais de um ano, Kaike dos Reis, na época com 20 anos, sofreu um acidente de moto às margens da BR-101, em Tijucas, no trajeto que fazia para o trabalho. Com grave trauma no cabeça, lutou pela vida. Saiu do coma e, meses depois, recebeu alta. Voltou para casa para, então, começar a lenta recuperação. Uma nova batalha.
Enio, hoje com 28 anos, conhecia Kaike desde pequeno. Só começou a ter mais contato na juventude, quando saiam em grupos de amigos. Quando aconteceu o acidente, Enio trabalhava e morava em São Francisco do Sul, pouco mais de 100 quilômetros daqui. Só conseguiu ver Kaike umas três semanas depois, quando ainda estava na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). “Quando eu o vi, só mexia o pé. E ele tentou me segurar... Foi a partir dali que eu não consigo mais explicar o elo que se firmou entre nós. É coisa de Deus, só pode!”, recorda.
Todos os finais de semana, Enio ia para o hospital acompanhar a recuperação do amigo. “A minha vontade era ficar perto o tempo todo. Chegou uma hora em que decidi largar tudo em São Francisco, saí do trabalho e voltei para Tijucas”, comenta. Nos primeiros dois meses em que Kaike voltou para casa, os amigos eram inseparáveis. Ajudava no banho, dormia junto (e não eram raras as vezes que se via acordando na madrugada para escutar a respiração de Kaike), conversava, incentivava... E sempre que está por perto, ainda faz tudo isso.
Depois de um ano em Tijucas, Enio precisou voltar para São Francisco. Mesmo assim, tenta vir sempre. E quando chega, logo coloca o amigo no carro e vai passear. Quer sempre quebrar a rotina de Kaike, que passa a maioria do tempo em casa. “Essa amizade não tem como explicar. Eu tento entender, mas não vem resposta. Hoje eu não consigo passar um final de semana sem ver ele”, conta.
Kaike segue na luta para recuperar movimentos, fala e a independência. No entanto, familiares e amigos sabem que, por conta da lesão do acidente, o processo é lento. Precisa de paciência. “Qualquer evolução dele é uma conquista nossa. Não tem preço a alegria dele nas vezes que eu o levo para passear. É entrar no carro, já percebo que ele muda de expressão. E isso não tem nada que pague”, ressalta, falando sobre a amizade deles com o brilho nos olhos de quem recebe mais do que dá.
RECADO DE MÃE
Querido anjo, Enio!
Amigos são importantes. Mas você é muito mais que isso: é um irmão do Kaike. Quando falo a ele que você não vem – agora que voltou a trabalhar longe daqui –, é uma das raras vezes que vemos lágrimas nos olhos de nosso Kaike.
Você já é um ‘zito’ das ‘zitas’ dele. É assim que eles, irmãos, se chamam aqui. Amamos você!
Julieta dos Reis, mãe de Kaike.
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