Na infância, Antonio aprendeu a tocar vários instrumentos musicais
MARINA OLIVEIRA
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É festa e a cidade se enche de luz. Tem música, riso, canto, presépios, pisca-pisca e neve artificial. As pessoas riem, partilham a ceia, trocam presentes, desejam os melhores sentimentos a todo mundo, do sem teto ao empresário. Um dezembro eterno por trinta minutos de entrevista para Antônio de Souza. Aos 79 anos, entre perguntas sobre o passado e o presente, o mais importante a se discutir é: ainda não é Natal.
Na memória, Antônio nasceu em Vidal Ramos, cidade fundada a menos tempo que ele tem de vida. Nos documentos de entrada no Lar Santa Maria da Paz, é natural de um município mais perto: São João Batista. Quando menino, aprendeu a tocar violão, cavaquinho, gaita de boca e acordeão. A maioria deles descobriu sozinho, “de ouvido” diz ele. Outros truques musicais treinou com o cunhado durante a adolescência.
Do aprendizado principalmente do violão e da gaita, passou a tocar em grupos de Terno de Reis. Buscando nas memórias, conta que na mocidade saía a tocar e cantar pelas ruas durante a noite toda, “tocava em todas as ruas daqui”. “Aqui” é São João Batista, onde a cabeça insiste em ficar presa e manter as memórias.
Dentre suas histórias – em Vidal Ramos, São João Batista ou Tijucas – Antônio foi agricultor. Plantou milho, feijão, batata e viveu do que a terra lhe deu por todos os anos. Casou, teve seis filhos e já está viúvo há 15 anos. Quando ainda vivia com a esposa, saía para os bailes para dançar vanerão. Como um homem de respeito, levava a companheira junto, mas reclama: “mulher não aprende a dançar”. E ri.
MEMÓRIA PERDIDA
Foi no último dezembro que Antônio passou a morar no Lar de Tijucas. Dias depois da chegada dele, os idosos receberam a visita de dezenas de padrinhos e madrinhas da campanha Padrinho Solidário. Além de receberem presentes, o encontro foi embalado por uma apresentação musical, que Antônio participou tocando feliz e orgulhoso de si. Hoje não se lembra de ter tocado durante a visita, e lamenta: “pena que não toquem mais Terno de Reis por aqui”.
Naquele momento a cabeça estava em um Antônio mais jovem que o de quase oito décadas de vida. Com convicção diz que é ele quem cuida do dinheiro que recebe e que mora há algumas ruas dali. Minutos depois, afirma que a melhor parte de estar morando no Lar é poder descansar e ver o movimento na rua. Entre idas e vindas, o calendário da memória volta para dezembro e canta o Hino de Reis: “25 de dezembro, quando o galo deu o sinal... Que nasceu o Menino Deus, numa noite de Natal”. E
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