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24 de Novembro de 2016 - 18:37:59

Fui por dinheiro e nunca mais consegui sair

Há 10 anos Tereza se prostitui. Diz que, quando entrou para o ramo, ouviu maravilhas que não se cumpriram
 
 

Tereza, 29 anos.

Garota de Programa desde 2006

Perfil: Filha de uma empregada doméstica, Tereza não conheceu o pai e foi criada pela mãe na casa dos avós. Teve uma infância tranquila ao lado dos irmãos. Engravidou aos 16 anos de um namorado nove anos mais velho. Largou a escola. Se separou e entrou para a prostituição.

 

"Eu havia me separado e tinha um filho pequeno. Sofria violência física e psicológica do meu ex-marido. Estava precisando de dinheiro. Uma amiga que tinha acabado de entrar no ramo, me falava das vantagens financeiras do negócio. Ia ganhar em dois dias o que demorava um mês inteiro para ganhar. Fui por dinheiro e nunca mais consegui sair"

Assim como Tereza, nome fictício para preservar a identidade, a maioria das garotas de programa entram no ramo por questões financeiras. Os anúncios são tentadores: prometem muito dinheiro, oferecem casa e babá para os filhos, poder de escolha, além de horário de trabalho flexível.  "Para te convencer a entrar no meio, te falam mil maravilhas. Mas a realidade é diferente", afirma.

Uma pesquisa feita em 2015 pela Universidade Federal de Goiás aponta que 69% das prostitutas sustentam a casa ou outra pessoa com o dinheiro que ganham. Além disso, 70% delas têm até 30 anos de idade e que apenas 10% tem o ensino médio completo. Esse é também o perfil de Tereza, que hoje sustenta os filhos e ajuda a mãe, tem 29 anos e largou a escola quando engravidou. "Entrei pela grana. A maioria das meninas que conheço também. São poucas que estão ali por que gostam", garante.

Tereza entrou para prostituição aos 19 anos. "Eu tinha me separado. Apanhava do meu ex-marido alcoólatra. Mas pior que apanhar, era a violência psicológica que sofria. Estava fragilizada e revoltada", lembra. Começou a trabalhar numa indústria têxtil, em Brusque, para sustentar o filho. "O dinheiro não dava pra nada. Tinha que pagar aluguel e não tinha creche pra deixar meu filho. Uma amiga tinha entrado para prostituição e mudou de vida. Alugou um apartamento bom e usava roupas da moda. Resolvi encarar", lembra.

Nova, magra, com 1,72 metro e cabelos escuros batendo na cintura, não foi difícil negociar com o cafetão. "Ele gostou de mim. Querem sempre carne nova no pedaço. Comecei a trabalhar no mesmo dia", conta. Na proposta de emprego, ficou acertado que 40% do valor do programa ficaria com a boate e o restante com Tereza. Ela também ganharia uma porcentagem do valor de bebida que o cliente consumisse. "A orientação era fazer o cliente beber. Na primeira semana já tirei muito mais que em todo mês de trabalho", recorda.

DO LUXO AO LIXO

Nos dois primeiros anos, Tereza trabalhou e lucrou com a prostituição de luxo. "Nossa carreira é curta nas boates. Logo chegam outras e perdemos espaço", conta. Com o rendimento em queda, ela começou a abusar de bebida. "Aquele papo de escolher clientes é furada. Enchia a cara para encarar o que vinha pela frente. Não usei drogas, mas a bebida foi minha perdição. Me acabei. Fui trabalhar numa casa de beira de estrada. O valor do meu programa despencou. Tinha que atender muito mais e dava quase tudo pro dono da boate. Ficava com mixaria", lembra.

Na zona de beira de estrada, Tereza se afastou do filho e da família. Se envolveu com um cliente e engravidou. "A gente também ama, né? Mas não deu certo. Terminamos e eu ainda estava grávida. Hoje tenho nojo de homem". Com mais um filho para criar, ela se dedicou mais ao trabalho. Conta que chegou a fazer 10 programas por dia.

Numa casa noturna no Vale do Rio Tijucas por onde passou, diz que, além de bebidas, há tráfico de drogas. "A droga rola solta. A noite é muito vício. Eu mesma várias vezes incentivada os clientes a usar", confessa. Em uma das poucas brigas que presenciou no estabelecimento, Tereza foi atingida nas mãos. "Me cortaram com um caco de vidro. Carrego uma cicatriz na mão inteira e no braço. Não pude chamar a polícia", lamenta, enquanto toca na marca que não a abandona.

LONGE DAS BOATES

Há um ano e meio, a garota de programa largou as boates e trabalha por conta própria. "É muito difícil cair fora. Ficamos em dívidas com os proprietários e não é fácil ir embora", afirma. Ela viu na internet uma ferramenta para trabalhar sozinha. "Me libertei. Pelo menos não sou explorada. O lucro é todo meu", conta. Apesar da crescente oferta de serviços sexuais na internet, a velha prostituição ainda sobrevive. No Vale do Rio Tijucas, não é difícil ver casas de prostituição nas beiras das estradas.

"Sempre que eu vou para um programa eu sinto uma angústia, medo de encontrar alguém violento, que não queira pagar. A boate te dá segurança nesse aspecto". Mesmo sabendo que a carreira da prostituta é curta, por ora ela não pensa em parar. "Vou continuar pelo dinheiro. Atendo em motéis. Hoje tenho tempo para ficar com meus filhos, dar algum conforto para eles e para mim". E segue, enquanto acreditar que o corpo ainda permite que consiga o sustento.

 

 

 

 

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