ANA MARIA VEIGA
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No anúncio em cartazes e classificados da região, um empregador oferece vaga de emprego. A oferta seria para mulheres interessadas em trabalharem como garçonetes e serviços gerais em uma casa noturna. Mas a proposta, na verdade, omitia a real intenção. A reportagem do DAQUI resolve fingir interesse na vaga. Faz contato e, pelo telefone indicado, recebe as informações. O anúncio de emprego era, na verdade, um atrativo para recrutar garotas de programa.
17 de novembro de 2016, por volta das 17h
- Alô!
- Oi, quem fala?
- É a Gisele - respondeu a voz por trás do anúncio.
- Oi, Gisele. É que eu vi um anúncio que vocês estão precisando de garçonete para trabalhar e eu queria saber se vocês têm vaga.
- Então, já me ligou muita gente hoje. Na realidade não é garçonete. É para trabalhar numa boate.
- E como funciona? - indagou a repórter.
- É para trabalhar na noite...
- Mas é para fazer o que?
- Programa. Querida, é para fazer programa. Vale muito à pena! Muitas vezes a gente vê o anúncio de um serviço e a gente não sabe como que é. A gente tem que ver para saber se gosta.
A mulher, com voz firme, continuou e a repórter entrou no jogo:
- Ganha muito dinheiro e não é preciso ter experiência...
- É em qual cidade?
- Em Tijucas.
- É porque eu nunca trabalhei com isso...
- Mas não tem problema. Tu pode vir olhar e conhecer, sem compromisso. Nós podemos te buscar e te levar onde você mora ou te encontrar na rodoviária ou algum endereço. Você só precisa ter acima de 18 anos. Você tem filhos?
- Não, eu não tenho filhos.
- É que se tu não tiver onde morar, nós temos umas quitinetes aqui. Também tem quem fique com os filhos. Se tu quiser, meu patrão pode te buscar hoje ou amanhã para você vir conhecer, sem nenhum problema. Você vem e vê como é. Se tu não gostar, vai embora.
- E quanto ganha em média?
- Depende. Depende da sua simpatia, de como vai conquistar os clientes. Tem meninas que tiram mais, outras menos. Depende muito, tem que conversar com meu patrão sobre o cachê. Os detalhes de valores é só com o meu patrão, eu não sei de nada. Aqui sou apenas empregada.
- Quem sabe eu vá com uma amiga para conhecer... Mas em média quanto eu ganho num programa?
- Depende do jeito que tu se sair. Depende da tua simpatia. Tem moça que tira R$ 900 por noite. Tem outras que tiram R$ 800. Algumas só R$ 300. Tem moças que só tiram na bebida e não em programas.
- Se eu quiser só na bebida, eu não preciso fazer programa?
- Aham. Tipo, hoje tu pode tirar só na bebida. Você fica mais reservada. Fala pra dona: olha, eu quero só conhecer, mas eu posso beber com ele. A mulher tem que ser esperta. Tu faz eles te pagar uma dose de bebida e no final as meninas lá no balcão trocam a bebida pra ti. Tu não precisa ficar bêbada, entendeu? Não precisa beber junto.
- Sim, porque eu ganho R$ 900 o mês inteiro. Se eu ganhar R$ 900 numa noite, né...
- (RISOS) Olha, eu vou te dizer uma coisa. Se tu for bonita e inteligente, tu ganha muito mais, tá? Tu pode até escolher o cliente. E temos bastante cliente, tá? Muito, muito. Tem dias que fica gente lá dentro até as 6h da manhã.
- Eu vou pensar, mas eu não prometo nada, moça. Eu vou conversar com a minha amiga pra ver...
- Isso, com certeza. Qualquer coisa tu volta a me ligar.
A prostituição, dita como a mais antiga das profissões, não é crime Brasil. No entanto, a profissão não é legalizada, conforme explica o advogado Rafael Dutra. “Isso deixa as prostitutas na ilegalidade, sem direitos, mais expostas aos riscos e à violência e leva à exploração sexual”, acredita.
Ele explica que é crime manter estabelecimento que promova a exploração sexual. “Conforme a lei penal vigente, nos lugares onde ocorre essa exploração, que um terceiro fica com a maior parte do valor do programa da prostituta, acontece um crime. Também é crime Induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la ou impedir que alguém a abandone”.
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