|
Dona Zilda já havia perdido tudo há 14 anos. E a tragédia se repetiu
CLÁUDIO EDUARDO DE SOUZA
[email protected]
Municípios do litoral de Santa Catarina sentiram, no último final de semana, os efeitos causados por um ciclone no mar, que provocou forte ressaca e fez com que a maré subisse. Em Tijucas, o resultado foram famílias desalojadas, algumas casas destruídas e ruas alagadas. Passado o fenômeno natural, moradores do bairro da Praça lutam para recuperar o que perderam.
Há 14 anos, quando uma ressaca parecida já atingiu a cidade, Zilda de Andrade Pacheco, 58 anos, teve a casa e todos os pertences levados pelo mar. Na época, morava na rua Pedro Mariano Rocha. “Eu só consegui sair com a roupa do corpo. Tive que começar tudo do zero”, recorda. Foi então que, sem nada, e contando com a ajuda de pessoas solidárias, conseguiu se restabelecer. Passou a morar na rua Altair Jeremias da Silva, também no bairro Praça, também próximo à praia. “Cheguei muito antes de ter as casas do Ressoar aqui. Era tudo bem diferente, o mar não estava tão próximo com a gente vê agora”, conta.
A casa de Zilda foi devastada pela água. E passada a ressaca, os traços de destruição demonstram que não há condições de que ela possa voltar para o local: além da lama, a cada foi invadida pela areia da praia – que parece estar ainda mais próxima das residências. “Eu moro com dois netos que eu crio. Quando a água foi chegando, derrubando tudo, foi só o tempo de sair com eles. Nessa hora, temos que pensar na vida. Depois vimos as questões materiais”, ressalta.
Cinco dos filhos de Zilda moram em terrenos na vizinhança. Construíam com todo capricho novas casas. Todas sofreram: ou foram destruídas ou estão parcialmente soterradas pela areia. “Estamos cada um num lugar, que famílias solidárias nos acolheram enquanto não se resolve isso. Querem nos pagar aluguel social por três meses. Mas, e depois? O que vai acontecer com nós, vamos ficar na rua?”, questiona, preocupada com o futuro.
TRISTE IRONIA
Uma das localidades mais atingidas pela ressaca do último final de semana, no bairro da Praça, foi onde ficam as casas do Ressoar – que são aquelas entregues há seis anos numa parceria da prefeitura com o instituto da Rede Record, dadas às famílias vítimas da enchente de 2008. Tiraram, na época, moradores de áreas de risco e acabaram colocando em um local que se demonstrou também ser de risco.
SEM O FGTS
De acordo com a responsável pela coordenadoria municipal de Proteção e Defesa Civil, Adriana Porto Faria, oito famílias foram desalojadas. Elas foram orientadas a fazer cadastro no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) para, após análise de um engenheiro da prefeitura, que determinará quais residências serão interditadas, dar os encaminhamentos para o aluguel social, até que a situação seja resolvida de forma definitiva.
“Não atingimos o índice em que seria possível decretar o estado de calamidade pública”, explica Adriana. Com isso, segundo a responsável pela Defesa Civil do município, não há destinação de recursos federais para auxiliar na recuperação e nem a liberação do FGTS para os atingidos.
DOAÇÕES NO CRAS
A orientação é que toda doação (roupas, alimentos, móveis...) seja levada ao Cras de Tijucas, para que lá a assistente social faça o acompanhamento e dê a destinação correta das doações a quem realmente precise. O Cras fica na avenida Coleiras, no centro da cidade.
|
