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09 de Junho de 2016 - 20:05:31

Minha terra, minha gente

Tijucas completa 156 anos de história. Para comemorar essa data, o DAQUI produziu um caderno especial com histórias de pessoas que vivem no interior da cidade
 
 
Minha terra, minha gente

“Para plantar, não tem terra melhor que essa”
Mesmo com a diminuição das plantações no interior, Valério Feller afirma que a vida mudou para melhor 

Valério Feller, de 87 anos, nasceu em uma época onde São João Batista, Canelinha, Major Gercino e Leoberto Leal, pertenciam a Tijucas. Não foi registrado aqui, mas ainda pequeno mudou para cá. Desde os dois anos de idade, vive no Oliveira e não pensa em trocar a comunidade. Frequentou a escola até o terceiro ano, depois passou a trabalhar no alambique com o pai. Da infância, Valério lembra dos momentos de folga, em que ia para o campo perto de casa jogar futebol. “Eu gostava muito. Qualquer pasto aberto a gente se jogava e ia brincar”, lembra.

Assim que se casou, aos 25 anos, parou de trabalhar com o pai e começou a plantar por conta própria. Cultivava arroz, feijão, milho e também fumo, que durante anos foi o principal na região. “Eu só vendia o arroz e o fumo. O resto era para consumo aqui de casa”, diz. Teve 12 filhos, 27 netos e nove bisnetos. Grande parte deles ainda mora no Oliveira e alguns trabalham com a agricultura.

Depois de tantos anos na roça, Valério poderia ter dias de folga e descanso, mas prefere passar o tempo arranjando algum serviço, como ele mesmo diz. Faz fubá, descasca arroz, milho e faz vassouras de palha para vender pelo bairro ou para quem aparecer disposto a comprar. “Faço umas 80 a 100 vassouras por ano. Cada um sai por R$ 12”, conta.

MUDANÇAS NO INTERIOR

Durante as mais de oito décadas morando no Oliveira, Valério acompanhou muitas mudanças do bairro. “Tudo está 100% diferente. Quando chegamos aqui tudo era brejo. Não tinha estradas. As poucas passagens eram feitas pela comunidade e tinham muito buracos. Hoje as casas são boas, de material”, comenta.

As plantações também diminuíram consideravelmente. Valério viveu o auge da plantação de fumo e também acompanhou a decadência. “Hoje eu até digo que o fumo por aqui acabou. O pouco que ainda se planta é o aipim, arroz, milho de praia e tem muito eucalipto”. Mesmo com as mudanças, ele nunca pensou em deixar o Oliveira. Diz que a vida, ainda que com dificuldades, melhorou e reconhece o valor do lugar onde vive. “Nunca pensei em sair daqui. Para plantar, não tem terra melhor que essa”, se orgulha.

“Gosto daqui. É tranquilo! Sempre quis ficar”
Araci é moradora do Bairro Timbé há quase um século. Nesses anos tem notado que o número de pessoas no interior diminuiu

Araci dos Santos é pequena, franzina, não passa de um metro e cinquenta. Tem todos os cabelos brancos que se destoam na pele negra. As rugas são poucas, mesmo tendo trabalhado anos debaixo do sol quente. É filha de parteira. Diz que tem 96 anos, mas o documento mostra 94, esse pequeno erro não desfaz a visível vivência dessa moradora do Timbé. 

Nesse quase um século de vida, nunca saiu do bairro. Foi lá que, quando a mãe morreu, passou a morar e “trabalhar com uma família de brancos”, como ela diz. Aos 13 anos conheceu o marido, Francolino da Silva, também do Timbé. Ali se casaram e criaram todos os 19 filhos. “Para ter o sustento eu trabalhava na roça e também vendia os doces aqui do bairro em Florianópolis”, recorda Araci. Os doces do Timbé são conhecidos pelo sabor caseiro, na cidade e fora dela. Ela não produzia, mas vendia e levava para fora o sabor da nossa cidade.

Acordava cedo e seguia rumo à capital, em uma época em que ainda não existia a BR-101. Chegava em casa já era meia-noite passada. O nome do ônibus que Araci pegava ela não se esquece, ‘Cesária’. Ele passava pela estrada geral do Timbé, Pernambuco e ia para Florianópolis. Fez esse trajeto durante 12 anos e, mesmo com o desgaste e cansaço, nunca pensou em se mudar. “Gosto daqui. É tranquilo! Sempre quis ficar, mas meus filhos não. A maioria se mudou para trabalhar”, conta. Uma realidade que reflete no número de moradores do bairro. “Antes moravam mais pessoas por aqui. Hoje diminuiu. Eles não querem mais ficar no interior” explica.

No desenrolar da conversa as visitas chegam, arrumam um lugar para sentar e esperam a entrevista acabar para poderem conversar com Araci. A casa fica cheia. Com orgulho, ela diz que ali é assim. “Graças a Deus estou sempre rodeada de pessoas queridas e recebo muitas visitas”. Todos vizinhos se conhecem de longa data. “Antigamente a vida era mais difícil, mais sofrida. Mas não tenho arrependimentos. Hoje eu vivo bem, em um lugar que eu gosto e onde todos me conhecem. Se você perguntar aqui pelo Timbé quem é Araci, todo mundo vai saber te dizer”, se gaba.

“As receitas eram passadas de família para família"

Um pouco mais adiante da casa de Araci, mora Davina Maria da Silva, de 69 anos. Por mais de duas décadas ela e o marido se dedicaram à tradição de produzir doces. “Ele não podia mais trabalhar e eu não queria ir para a roça. Começamos fazendo cuscuz”, lembra. Ela conta que, ainda muito jovem, os doces já eram produzidos e vendidos para fora. A grande diferença se dava no processo de produção. “As receitas eram passadas de família para família e feitas em casa, bem artesanal. Hoje são poucos os que fazem assim. Eu mesma não conheço. São mais fábricas e não pessoas que fazem os doces”, explica.

Hoje ela estima que, no bairro, existam seis fábricas. Uma delas é do filho de Davina. Com muito carinho, ela conta que mesmo os doces não sendo mais artesanais, as receitas continuam as mesmas e que tudo continua delicioso. “Todos são gostosos. Até os que não são da nossa fábrica eu gosto. O sabor não mudou. Acho que está até melhor”, elogia.

“Volta e meia ajudo algum amigo a puxar rede"
Samuel ganha a vida fazendo embarcações. E não consegue se ver longe de tudo que é ligado ao mar

“Quando eu era criança tomava, banho nesse rio. A água era limpa. Hoje, em dias quentes e sem vento, o cheiro é horrível”. Samuel Valdemar da Silva, de 62 anos, guarda com carinho esse e outros momentos bons da infância vividos em Santa Luzia, perto do rio, que passa atrás de casa. “Meu pai inventava muitas coisas. Começou na roça e com o passar dos anos percebeu que em Santa Luzia era raro quem tinha embarcações, então ele comprou uma canoa e foi para o mar”.

Ainda na infância, Samuel passou a trabalhar com o pai. Nos dias em que o mar estava grosso, eles iam para roça. Quando o tempo estava bom, pescavam. Eram poucas as peixarias na época. Então, quando os pescadores chegavam do mar, as pessoas já estavam esperando pelo pescado fresco.

Depois de casado e com cinco filhos para criar, começou a trabalhar em diferentes setores, mas a experiência sempre o trazia de volta para perto do mar. Há 40 anos comprou a casa em que vive até hoje. Começou a fazer embarcações, de todos os tamanhos, mas as preferidas são as menores. Há treze anos mantem o pequeno estaleiro ao lado de casa, onde ele o filho mais velho trabalham.

“Hoje eu tiro meu sustento do estaleirinho. Mas volta e meia ainda ajudo algum amigo a puxar rede”, diz Samuel. Tem meses em que tem serviço, outros nem tanto. Nos momentos bons, consegue fazer duas bateiras pequenas por semana. Nos ruins, chega a ficar mais de um mês parado. Mesmo assim, não desanima. “Eu me sinto feliz pela vida que tenho, e olha que já trabalhei e ainda trabalho muito”. 

 

“Eu só ia na venda comprar sal. Mais nada”
Mesmo aos 82 anos de idade, Maria não fica parada: pega lenha, capina o terreno, dá comida para os animais...

“Sempre trabalhei. Sempre lutei. Aqui tive meus oito filhos e nunca deixei de ajudar meu marido na roça”. Essa frase, Maria da Silva Pereira, de 82 anos, diz enquanto carrega um carrinho de mão pelo pasto em volta de casa. Ia preparar rosca de polvilho. Ela conta que todos os dias, logo pela manhã, arranja algo para fazer. Pega lenha, capina o terreno, dá comida para os animais. Onde mora, Maria ainda planta alguns alimentos, mas muito pouco comparado ao que um dia já teve. “Eu só ia na venda comprar sal. Mais nada. Tínhamos muita cana para fazer açúcar, mandioca, para fazer farinha, feijão, café. Tudo que podes imaginar. Hoje não!”.

Ela explica que essa é uma realidade em todo o bairro. As pessoas ainda plantam, mas muito pouco. “Hoje a plantação de arroz é mais comum aqui. Mas também tem mandioca, maracujá, fumo. Só que é pouco”. A agricultura não foi o único aspecto que sofreu mudanças na Itinga. Maria lembra que, antigamente, o bairro era uma comunidade familiar, onde a maioria era parente. Mas agora a população é composta por pessoas com mais idade e que vem de fora. “Trabalhei durante 22 anos com o povo, no salão de festas e no campo de futebol, todo mundo se conhecia. Hoje em dia é diferente”, conta Maria.

Ela não esconde que já teve vontade de se mudar. Mas o marido, Manoel Antônio Pereira, de 86 anos, não gosta nem de falar em ir embora. “Conheci minha esposa ainda no tempo do colégio. Tive meus filhos. Trabalhei muito. Tudo aqui na Itinga. Isso aqui é muito bom”, fala Nelinho, como é conhecido.

 

“Quando era novo eu sempre jogava”

Nelinho foi um dos grandes incentivadores do desenvolvimento do futebol amador no bairro da Itinga. Um apaixonado pelo esporte, conta que, desde pequeno, adora futebol. “Quando era novo eu sempre jogava e meus filhos também. Nunca impliquei com eles por causa disso. Eu deixava e gostava de ver eles no campo”, garante.

Foi com esse carinho que vem de família e vendo as crianças sempre brincando com a bola pelos pastos do bairro que, em 1970, ele decidiu construir um campo de futebol. “Na época, para aterrar o terreno a gente enchia o carro de boi com barro e fazia o arrasto. Deu trabalho. Mas me deixou feliz”, relembra, orgulhoso.

Com o passar dos anos, o time da Itinga se fortaleceu, é destaque no futebol amador de Tijucas. Hoje, é um dos clubes mais fortes das competições na cidade. O campo, Nelinho decidiu doar para uso do time que, hoje, é o xodó. “Não vou nos jogos porque fico muito nervoso. Assisto lá de casa mesmo. Dou uma espiadinha”, confessa. Mas o nome dele está sempre lá, em destaque no estádio Manoel Antônio Pereira.

 

 

 

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