Rose é considerada a primeira pessoa em Tijucas a declarar abertamente: “eu tenho Aids!”
CLÁUDIO EDUARDO DE SOUZA
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Em Santa Catarina, segundo levantamento do Ministério da Saúde, mais de 30 mil pessoas convivem com o vírus HIV. No entanto, qualquer dado estatístico é menor que a quantidade imensurável de pessoas que ainda têm preconceito a quem tem a doença. O tratamento evoluiu, mas a mentalidade de muitos, não.
“Ainda hoje existe muito preconceito, sim. Tem gente que nem apertar minha mão, aperta!”, confidencia a telefonista aposentada Rose Neide de Jesus Silva, 50 anos, que descobriu ser portadora do vírus HIV em 2002 – apesar de ter contraído cinco anos antes. Segundo o departamento de DST/Aids da secretaria municipal de Saúde, ela foi a primeira pessoa em Tijucas a declarar abertamente: “eu tenho Aids!”.
Rose só descobriu que tinha pego o vírus de um antigo parceiro quando, em 2002, foi para o hospital com pneumonia. Ficou internada numa ala apenas de pacientes com Aids, em Florianópolis, por três meses. Chegou a pesar 30 quilos e para se locomover precisava de cadeira de rodas. Achou que não escaparia com vida. “Todos que estavam ao meu redor foram morrendo. Quando eu vi que só faltava eu, pensei: ‘agora quem vai sou eu!’”, confidencia.
Depois, tão logo teve alta, começou o tratamento – que faz até hoje. Diz que os amigos se foram. Só contou com o apoio da família. “As reações foram terríveis. Eu sentia. Escutava coisas do tipo ‘lá vai a aidética’. Mas eu erguia a cabeça, jamais me escondia. Os amigos me abandonaram. E ainda criticavam quem ia me visitar, chamavam de louco quem tomou café na minha casa”, recorda.
Rose diz que, se hoje estivesse sozinha, não conseguiria ninguém. “Eu tenho direito, sim, de beijar, de ter prazer. Eu sou um ser humano!”, ressalta. Há anos, ela é casada. O marido também tem HIV (havia contraído antes de a conhecer). Mesmo assim, ela reconhece a importância da prevenção. Diz que, mesmo os dois tendo Aids, usam preservativo, para que um não piore a doença do outro, no aumento da carga viral.
QUEREM ANONIMATO
De acordo com a Coordenadora de Vigilância em Saúde, Silvana Maria Cipriani, Tijucas atende cerca de 150 pessoas (não só da cidade, como também dos outros municípios do Vale). Contudo, ela reconhece que não há como precisar o número de portadores do HIV na cidade, pois, por medo de serem identificados, muitos procuram tratamento e atendimento em outros lugares. “Se os próprios pacientes aceitassem e agissem mais naturalmente, talvez seria uma forma de ajudar a diminuir o preconceito”, acredita.
“Ainda há muito medo das pessoas em serem reconhecidas. Por isso, preferem ir procurar ajuda fora”, destaca o responsável pelo departamento de DST/Aids, Vilson José Porcíncula. Ele reforça, ainda, a importância das pessoas procurarem a unidade – que fica no piso superior do Posto de Saúde da Praça – para fazerem um teste rápido. “Com um furo na ponta do dedo, já se sabe se dá positivo ou não. Os testes são feitos nas quartas-feiras, pela manhã, mas a partir do ano que vem devem ser realizados em todas as unidades de saúde do município”, antecipa.
O QUE É HIV/AIDS?
O HIV é um vírus que destrói o sistema imunológico (sistema de defesa), transmitido, principalmente, por meio de relações sexuais desprotegidas. Sem tratamento, o HIV pode levar à Aids, doença que pode provocar infecções graves e até levar à morte.
COMO EVITAR O HIV?
- Use camisinha em todas as relações sexuais, não importa quem seja o (a) parceiro (a);
- Encoraje o (a) parceiro (a) a também fazer o teste e, quando indicado, o tratamento;
- Nunca compartilhe agulhas, seringas ou objetos perfurocortantes não esterilizados, como alicates de unhas e lâminas de barbear.
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