Pouco mais de 20% dos 318 presos que superlotam o Presídio Regional de Tijucas são mulheres. Com necessidades diferentes da ala masculina, elas recebem atenção especial no ambulatório. Ficam divididas entre nove celas e, praticamente todas, ocupam parte do tempo entre trabalho e estudos.
Das 67 mulheres presas em Tijucas, 20 trabalham fora da cadeia. Vão para uma empresa de pescados e voltam depois do expediente. Outras, trabalham como costureira na fábrica montada no interior do presídio. Eliana Almeida, 34 anos, tem um ofício diferente. Ela é a “regalia na galeria”. Junto com outra apenada, é responsável pela organização das celas e das presas. Uma espécie de gerente. “Eu já trabalhei na metalúrgica que tem dentro do presídio. Montava peças de carro. Aqui temos muitas oportunidades, coisa que não tem em outras cidades”, comenta. Antes de Tijucas, onde está há três anos, Eliana já passou por prisões em Itajaí, Chapecó, Caçador e Florianópolis.
Condenada há 30 anos por latrocínio (roubo seguido de morte), Eliana acredita que precise cumprir mais cinco anos dentro da cadeia. Nascida em Campos Novos, no oeste catarinense, diz não ter um paradeiro certo. Tanto que, quando foi presa, estava na Capital. Tem uma filha, hoje com 15 anos, que tem síndrome de down. Como Eliana e o pai da menina estavam presos, era a avó quem criava. Mas ele conseguiu a liberdade e, segundo Eliana, conseguiu a guarda e se mudou com a filha para o Rio Grande do Sul. “Quando sair, quero ela de volta. Vou procurar trabalho numa metalúrgica e tocar a vida”, confidencia.
Eliana diz que já aprontou enquanto esteve presa. Mas não pretende fazer mais nada de errado, por medo do que considera o pior castigo: ser transferida de Tijucas para outra unidade. “Aqui só não trabalha e estuda quem não quer. Até o fim da pena pretendo ficar aqui e as outras pensam o mesmo. Em Tijucas somos tratadas com respeito, somos tratadas como gente!”, assegura.
Cuidado com a saúde das mulheres
No interior do presídio de Tijucas há uma Unidade Básica de Saúde devidamente equipada. Mas ainda não funciona. Quando algum preso necessita de atendimento médico, é trazido para as unidades do centro da cidade – seja hospital ou posto 24 horas. De acordo com a gerente do presídio, Danielle Amorim Silva, faltam profissionais para trabalhar porque o município não fez um convênio no âmbito nacional. Contudo, garante que estão atrás de solução.
Enquanto isso, apenas uma enfermeira atende no local, para fazer os atendimentos básicos. Há um ano e meio, Thais Angelita da Silva Mello é quem cuida da saúde dos apenados – faz, inclusive, as coletas para os exames laboratoriais e preventivos. “Nos preocupamos com elas. Descobrimos um caso de sífilis e outro de HIV, agora já estão em tratamento. Todo mês eu também dou a pílula anticoncepcional para elas. Não temos nenhum caso de gravidez na unidade”, salienta a enfermeira.
ABANDONO
Três celas são destinadas para os encontros íntimos dos presos, que são agendados previamente. Os que estudam e trabalham têm direito a duas visitas íntimas por mês, os outros, só uma. Neste caso, fica evidente a diferença de gênero. Segundo Danielle, apenas três das 67 apenadas recebem os maridos que estão do lado de fora. “No masculino, às vezes eles nem chegaram aqui e a mulher já procura para fazer a carteirinha para garantir o encontro íntimo. Já no caso das mulheres, os parceiros geralmente as abandonam assim que elas são presas”, ressalta a gerente do presídio.
|