Valdeci começou a pescar aos 12 anos de idade, para ajudar no sustento da casa
Numa manhã de sol, céu azul sem nenhuma nuvem e temperatura bastante amena para o início de inverno catarinense, Valdeci de Souza desce do trapiche para o bote João Carlos, atracado no Rio Tijucas, com agilidade, apesar dos seus 82 anos de idade. A lida com barcos, o rio e o mar é parte inseparável da sua rotina, já que há 70 anos se dedica à pesca como forma de ganhar a vida.
Nascido no bairro da Praça, Valdeci é o mais velho dos três filhos de Valdemar Vitor de Souza, marinheiro mercante, e da dona de casa Margarida Rodrigues de Souza. Foi criado, no entanto, pela avó, Maria, e pelo tio, João Carlos, em Santa Luzia.
Aos 12 anos de idade, começou a ajudar o tio pescador a buscar o sustento da família. Na baía de Tijucas, nas redondezas das ilhas das Galés e do Arvoredo, em uma canoa de um pau só, pescavam, principalmente, corvina. A produção era vendida para pombeiros, termo que designa comerciantes que negociavam mercadorias diversas pelas cidades vizinhas. A pesca, claro, também colocava comida na mesa da família. “Nossa comida era sempre aquele peixinho escalado e um pirão de feijão”, relembra o experiente pescador.
A saída para o mar em Santa Luzia era bem mais tranquila que através da Boca da Barra, na Praça. “Aí de vez em quando morria um”, aponta com o dedo na direção da turbulenta saída do rio para o oceano. Aos 15 anos, porém, Valdeci começou a pescar por essa região, quando se mudou para o bairro. “Tem que saber entrar e sair do mar. Eu respeito muito, pra mim ele é sagrado. É por isso que eu trabalho na pesca uma vida toda e estou aqui contando”, afirma.
Quando tinha 20 anos, Valdeci casou com Célia Maria, alguns anos mais nova. Já se vão mais de 60 anos de casamento, com oito filhos e uma família toda criada com o trabalho no mar. Depois de casado, ele conta, passou a se dedicar mais à pesca do camarão, varando madrugadas adentro. Pela manhã, dona Célia e outras mulheres se encarregavam da segunda parte da tarefa: limpar e preparar o produto para ser vendido.
Bastante apegado ao lugar em que vive, seu Valdeci trabalhou pouco tempo em outros estados, alternativa a que muitos pescadores recorriam àquela época. Por aproximadamente um ano, esteve embarcado em Santos e no Rio de Janeiro, mas não gostou daquela vida. Já estava com mais de 50 anos de idade e passar quinze ou vinte dias em alto mar, além de meses sem vir para Tijucas ver a família, era um sofrimento que quis deixar logo para trás.
Hoje, com mais de oitenta anos, pesca esporadicamente com um dos filhos. “Se eu fico muito tempo sem ir já me agonia, parece que está faltando alguma coisa”, relata, sorrindo. Marias Luizas, pescadinhas e corvinas enchem as redes sempre que a embarcação João Carlos – caprichosamente pintada de branco e verde – sai pelas praias da Ponta Grande, Triste, Ponta dos Ganchos. Daí seu Valdeci tem mais uns bons dias de tranquilidade, até que a saudade do mar invada o peito novamente.
Numa linda manhã, nas vésperas do Dia do Pescador, celebrado em 29 de junho, o “homem do mar” admirava a paisagem e garantia que pretende seguir pescando, como faz há longas sete décadas. “A pescaria é a coisa mais querida. Eu amo muito ela”, declara-se, sem esconder o amor pela profissão e o desejo de, enquanto puder, continuar fazendo aquilo que ama: pescar.
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