Letinha já planeja sua terceira ida como peregrina ao Caminho de Santiago de Compostela
Hilda da Silva Santos era professora aposentada quando Marlete, a penúltima de seus sete filhos com o marido, Pedro dos Santos, nasceu. Depois de deixar a sala de aula, ela começara a primeira malharia de Tijucas e, conforme cresciam, as filhas começavam a ajudar na produção. Seu Pedro, que sempre foi comerciante, rodava as cidades vizinhas de Fusca, vendendo roupas.
Conforme cada uma das filhas casava, dona Hilda e seu Pedro davam como presente de casamento uma máquina para que seguissem no ramo da confecção e pudessem trabalhar para sustentar suas famílias. Foi assim quando Letinha, como é conhecida por todos, passou a assinar Marlete Santos Piffer ao se casar com Irineu Piffer, pedreiro de ofício.
O casal se conhecera em uma Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, na capela do bairro Praça, lugar que Letinha frequentava desde pequena. Muito envolvida com a religião, sua família estava sempre nas missas e festividades católicas. “Todo ano o pai levava a gente pra Iguape. Ele era devoto e tinha muita fé no Bom Jesus de Iguape”, relembra ela, hoje com 63 anos.
Seguindo no ramo da confecção, ela abriu uma loja em Balneário Camboriú, com peças que produzia e outras de marcas que revendia, até que o aluguel em Balneário ficou insustentável e ela resolveu ficar só por aqui. Há cerca de 30 anos, administra o Cestão do Vestuário. Ao mesmo tempo em que trabalhavam muito, Letinha e Irineu sempre se dedicaram muito criar os três filhos: Sander, Jhonison e Chayana.
Há mais de 30 anos, Letinha é catequista na Capela Nossa Senhora dos Navegantes, onde tem orientado muitas gerações no caminho da religião católica, mas faz questão de destacar que aprende muito com as crianças. “A gente vai evangelizar e ganha muito com isso, é uma recompensa muito grande. Tem crianças muito carentes, que às vezes precisam de uma atenção, um abraço, um carinho. É muito gratificante”, salienta.
Além de catequista, também é missionária da Mãe Peregrina, responsável por levar a imagem de Nossa Senhora para visitar as casas das famílias, uma das coordenadoras do Grupo Bíblico da Paróquia de Tijucas e ministra da eucaristia, responsável pela comunhão durante as celebrações e também por levá-la a pessoas acamadas ou com idade avançada que não podem ir à igreja.
Foi na fé que dona Letinha se segurou em uma fase extremamente difícil da vida. Em março de 2013, Irineu foi diagnosticado com um câncer raro. Poucos meses depois, enquanto tentava se manter forte para acompanhar o marido no tratamento, ela mesma recebeu o diagnóstico de câncer de mama após exames de rotina. “Foi um momento muito difícil para toda a família, como se tivesse aberto um buraco sob os meus pés”, recorda.
Após dois anos de uma árdua luta contra a doença, Irineu não resistiu e faleceu em 2015, aos 61 anos de idade. “Ficamos muito tristes de perder uma pessoa tão amada, mas Deus se fez presente e me deu forças para continuar, mesmo com o coração em pedaços”, afirma dona Letinha, que enfrentava uma maratona de cirurgia, quimio e radioterapias. Sua cura, enfim, veio em 2018, após longo período de acompanhamento clínico.
Agora, enquanto se divide entre o trabalho na loja e as diversas funções na igreja, dona Letinha projeta sua próxima peregrinação. Será a terceira vez que vai ao Caminho de Santiago de Compostela, viagem que está sendo planejada para 2024, porque não tem tempo a perder. “Quem muito dorme, não vive”, sorri, determinada a seguir pelo caminho da fé.
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