Dona Preta se aposentou da prefeitura em 2016, depois de 25 anos no paço municipal
Se algum desavisado for ao bairro da Praça procurar por uma tal de Terezinha Maria, da rua Capitão Amorim, é bem provável que não encontre alguém que saiba onde essa senhora mora. Acontece que para todo mundo – inclusive para a própria – ela é a dona Preta. Desde criança é chamada assim, mesmo pela família, e não sabe nem explicar o motivo do apelido.
Terezinha Maria Teófilo, 72 anos, é filha de Augustinho Camargo e Maria Augusta Camargo. O pai era lavrador e costumava trabalhar para algumas famílias mais abastadas da cidade, cuidando das criações e lidando com a terra. Já a mãe, algo menos comum para a época, sempre trabalhou fora, em diversos lugares, para poder criar os sete filhos do casal. Deles, apenas dona Preta e a irmã mais nova estão vivas.
Desde nova, Preta ajudava os pais no que pudesse. Trabalhou descascando nozes e cozinhando com a mãe, entregava o leite que o pai tirava das vacas da família. “Naquele tempo de pobreza era o que tinha para fazer. Se a gente tinha para comer à noite, comia. Se não tinha, ia dormir e deu. Mas sempre se dava um jeito, era um tempo diferente de hoje”, compara.
Maria Terezinha casou-se com Édio Elpídio Teófilo quando tinha aproximadamente 20 anos. Para criar os cinco filhos que tiveram, os dois precisavam trabalhar. Dona Preta, então, foi convidada pela diretora Maria Helena Machado para ser merendeira da escola estadual Deputado Valério Gomes, de onde lembra com carinho dos alunos. Alguns, ela conta, aparecem na sua casa para mostrar os filhos e trazer alguma lembrança para a senhora que lhes “contrabandeava” uma ou duas bolachinhas nos tempos de colégio.
Durante a gestão do prefeito Nilton Fagundes, o Gordo, dona Preta foi convidada a trabalhar como auxiliar de serviços gerais no paço municipal, onde ficou por 25 anos. Na prefeitura, era responsável pela cozinha, reparando as refeições para os servidores, e pela limpeza. Trabalhando por tanto tempo na administração municipal, dona Preta conviveu com vários prefeitos. Como é natural, teve mais proximidade com um ou outro, mas prevalecem as boas lembranças de todo o período. Sobretudo do companheirismo com os colegas de trabalho, dos quais fala com carinho e sente saudades. “Trabalhando junto lá, a gente era uma família mesmo”, garante.
Ela lembra com orgulho da importância do seu trabalho, principalmente na alimentação dos funcionários. De acordo com dona Preta, muitos tinham ali a principal refeição do dia. “O que mais me marcou dessa época é o esforço que eu fazia por eles, para preparar uma comida boa para todos. Isso me marcou muito porque era uma fome que a gente estava matando, né?”, comenta.
Como não poderia ser diferente, dona Preta ainda tem na memória a imagem do piso de madeira do prédio da prefeitura, que ela e as companheiras suavam para encerar. Às sextas-feiras, recorda, eram de trabalho até dez horas da noite para que tudo estivesse brilhando quando o expediente fosse retomado na segunda-feira.
Ela deixou o serviço público ao fim da gestão do prefeito Valério Tomazi, em 2016. No entanto, não parou de trabalhar. Mesmo enquanto ainda estava na prefeitura, tinha uma segunda jornada na cozinha da tradicional festa do Pirão com Linguiça e em outros eventos, o que continuou a fazer depois.
Hoje, dona Preta vive mais em função da família. Aos finais de semana a casa está sempre cheia com os filhos e netos. E, claro, quem comanda a cozinha é ela. “Fim de semana é aqui em casa. Eles sempre pedem para fazer um peixe frito, um caldo de peixe. No domingo tem um churrasquinho”, conta, sorrindo, com a satisfação de quem pode, mesmo com sacrifício, dar o melhor aos seus.
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