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O tempo passa. E traz limitações. Os movimentos já não são mais tão apressados e nem tão confiantes, conforme a idade avança. Uma projeção feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir de dados do censo de 2010, aponta que o número de pessoas com mais de 65 anos deve quadruplicar, no Brasil, até o ano de 2060. As cidades estão preparadas para uma população mais envelhecida?
A aposentada Venília Duarte da Silva tem 74 anos e duas próteses nos joelhos. Já se machucou algumas vezes. A mais recente, há seis meses, quando tentava ir, sozinha, até uma clínica médica no centro de Tijucas. Caiu. “Machuquei meu nariz, a barriga e fiquei muito nervosa. Agora evito sair de casa sozinha, porque é muito perigoso. As calçadas são ruins, as lojas não têm acessibilidade. O Brasil está envelhecendo e as autoridades não dão atenção para isso”, desabafa.
Nas vezes em que se arrisca, Venília garante que vai com atenção redobrada. O grande receio é cair, machucar algum osso e ter os movimentos limitados. “Eu tenho medo. Aqui em Tijucas ainda falta muita coisa a ser feita. Vira e mexe alguém cai. Por isso vou sempre atenta ou me segurando”, comenta.
A aposentada recorda do dia em que precisou levar o marido – que aos 78 anos de idade vive numa cadeira de rodas, por causa de um derrame – para fazer a carteira de identidade numa repartição pública, em Tijucas. O local fica no segundo piso do prédio da rodoviária da cidade. Para chegar, é preciso subir escadas. Foi preciso que a funcionária descesse e fizesse a identidade ali mesmo no terminal rodoviário. “Todas as pessoas vão chegar na idade que a gente tem. Agora estão muito bem, mas um dia vão estar limitados igual a nós”, ressalta.
Estatuto da Pessoa Idosa não é cumprido na cidade
“É possível uma pessoa idosa, de bengala, sair da sua casa e ir a uma agência bancária, andando por Tijucas?”
(foto Idoso – BÁRBARA PORTO)
O professor universitário Celso Leal da Veiga Junior trabalhou a construção do direito da pessoa idosa, em sua tese de doutorado. Ele acredita que o município não tem atendido, como deveria, a população da terceira idade. “Eu tenho que ter sempre como padrão e referência uma lei. Tendo como padrão o Estatuto da Pessoa Idosa, Tijucas deixa a desejar em algumas situações necessárias para atender as necessidades da pessoa idosa”, reconhece.
Na questão estrutural da cidade, Veiga cita exemplo que, situações simples, podem ser obstáculos gigantes para quem tem limitações impostas pelo tempo. “É possível uma pessoa idosa, de bengala, sair da sua casa e ir a uma agência bancária, andando por Tijucas, sem nenhum transtorno? Eu acredito que a resposta é não!”, reflete.
Para Veiga, não adianta os prédios, transporte e outros estabelecimentos públicos darem acento preferencial para a terceira idade, sem antes oferecer condições para que cheguem até um banco ou a um ponto de ônibus. “Aqui em Tijucas você não tem calçada. As poucas que existem, tem forma irregular. São levantadas, algumas quebradas, nada uniformes. A pessoa idosa praticamente se arrasta, não levanta o pé. O que vai acontecer é que, no arrastar, ela precisa encontrar o ambiente plano, e isso não ocorre”.
É preciso, de acordo com Veiga, que a sociedade mude o comportamento. As famílias têm que dar mais atenção, amor, carinho e respeito aos mais velhos, sem ficar esperando que o estado vá fazer e suprir o que eles não fazem. “Infelizmente nós temos uma cultura no Brasil em que as pessoas escondem os seus velhos. A juventude está cada vez mais distanciada dessa parcela da população. E o idoso também se faz vítima do processo. Como não tem política pública que ajude ele a vencer essa barreira, nós temos cada vez mais um idoso dependente”, conclui.
“Os municípios precisam se preparar para o envelhecimento”
Desde 1999, Tijucas tem o Conselho Municipal do Idoso. O órgão tem a prerrogativa de fiscalizar a implementação dos planos, programas e projetos relacionados aos direitos da população idosa, além de sugerir ações junto aos órgãos da administração municipal. Atualmente, é vinculado à secretária de Ação Social, comandada por Sheila Dias. “A questão do envelhecimento da população brasileira está sempre sendo conversada nas nossas reuniões. Todos os gestores da assistência social percebem que os municípios precisam se preparar para o envelhecimento. O que a gente faz é tentar buscar melhorar e aumentar o atendimento aos idosos”, salienta.
No município, existem 19 grupos da terceira idade. Sheila destaca que a cidade oferece assistência para a comunidade idosa. “Tijucas tem o Lar para os idosos, tem Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), tem ginástica para terceira idade, tem grupos, os quais ajudamos com meio salário mínimo. É pouco ainda, mas é um começo”, argumenta.
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