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09 de Julho de 2015 - 11:38:13

Nunca é tarde para se divertir

``Às vezes me dizem: como ela está nova, bonita e bem arrumada. E eu respondo: o que faz isso é o amor, minha filha´´
 
 
Nunca é tarde para se divertir

Cabelo com corte marcado, bem penteado, rosto corado e um batom claro nos lábios. Sinais de que o tempo não lhe tirou a vaidade. Sentada no sofá de casa, Ereni Santos é receptiva e ri com frequência, gargalhadas altas, que preenchem o ambiente pequeno e aconchegante. Há nove anos viúva, Ereni não deixou se abater pela solidão. Decidiu que ninguém poderia ser feliz por ela e descobriu, no auge de seus 72 anos, que felicidade e o amor próprio são indicados – sem restrições – para todas as idades.

Dois filhos, quatro netos e uma super disposição. Nos dias de sol, Ereni não falha: vai até a pracinha do Coroado, em Tijucas, e se exercita nos aparelhos ao ar livre. Faz o que pode a pé, mas não esconde que a atividade física preferida (e também sua paixão) é sair para dançar. “É muito bom para o coração e para os olhos”, confidencia, referindo-se aos formosos companheiros de arrasta-pé. Ela é sócia de um grupo, em São João Batista. Todas as quartas-feiras, pega um ônibus fretado onde parte rumo a um bailão da terceira idade. E se souber de outros pela redondeza, faz um esforço para comparecer.

A dança lhe faz muito bem, e ela já tem um ritual que segue toda semana. “Terça-feira eu faço a unha, lavo o cabelo e enrolo. Fico esperando a tarde chegar, para me preparar e sair para dançar”, declara, contente. E se engana quem pensa que a maratona semanal cansa Ereni. “Eu não sinto dor nas pernas, nem no pé. Graças a Deus, não sinto nada! No outro dia estou pronta para sair e dançar outra vez”, garante.

O prazer pelo arrasta-pé vem de família. Eram todos “dançadeiros”, como diz Ereni, que não poupa elogios a si mesma. “Não é querer me gabar, mas pode perguntar para qualquer um, eu danço muito bem. Sou requisitada”. Dos ritmos que costuma bailar, jura que o bolero é o melhor. “As pessoas dançam mais perto umas das outras. E com os rostos coladinhos”, argumenta.

Quando questionada sobre um novo amor, Ereni solta uma longa risada, se remexe no sofá, enrola o jornal distraída e diz que não quer mais ninguém. Nos últimos anos, teve dois namorados. Um deles, com quem ficou por quase dois anos, conheceu nos bailões que frequenta. Embora o relacionamento não tenha dado certo, Ereni revela que é muito bom ter alguém. “Às vezes me dizem: como ela está nova, bonita e bem arrumada. E eu respondo: o que faz isso é o amor, minha filha!”.

O avanço da idade nunca foi um problema para pessoas que levam a vida com bom humor. Ereni é uma dessas. “O passar dos anos não é algo que eu paro para pensar. Não me sinto velha. Eu e minhas amigas brincamos, dizendo que agora é que somos moças”. Os anos deixaram Ereni mais jovem, mas com a sabedoria de quem já viveu muito. “Para mim, ter ânimo em viver é necessário em qualquer fase da vida. Não deixar a peteca cair e tentar sempre levantar o astral. Eu olho pela janela, pode até estar chovendo, mas eu vou dançar. Sempre”, conclui, enquanto se apronta para mais uma jornada de diversão.

 

Um rei na arte da qualidade de vida

“Enquanto a perna aguentar e o coração bater, eu tô por aí. Não quero parar!”

Rubens Elpídio da Luz. Conhece? Provavelmente, mas não por este nome. Pelézinho, como é chamado entre os amigos, recebeu este apelido na década de 1960, ainda jovem. Na época, devido à paixão pelo futebol e habilidade com a bola. Comparavam-no ao craque Pelé. Tão improvável quanto o conhecer pelo nome de batismo é adivinhar a idade. Difícil alguém o encontrar pessoalmente e chutar que tenha os 73 anos que a certidão de nascimento confirma. Parece umas duas décadas mais jovem.

Pelézinho não foi tão longe nos gramados, mas chegou a jogar no infantil do Marcílio Dias, em Itajaí, sua cidade natal. Jogou, mais moço, no Avaí, Figueirense, Caxias de Joinville, no Tiradentes, em Tijucas, e outros tantos times.  Mesmo com o passar dos anos o futebol continua fazendo parte de sua rotina. Aos 73 anos de idade, não se vê mais sem praticar esporte. “Quando eu paro por um tempo de jogar, sinto muita falta. Depois é tão difícil recomeçar. Enquanto a perna aguentar e o coração bater, eu tô por aí. Não quero parar!”, declara, com sinceridade. Ainda participa de competições, como foi o caso da última edição das Olimpíadas de Tijucas, em que levou a medalha de prata no futebol suíço.

Sempre sorrindo, conta, orgulhoso, que vai para academia quatro vezes por semana. Faz esteira, para aquecer, e depois parte para a musculação. Na quarta-feira é o dia de jogar futebol de salão.  E todos os dias, depois de lavar a louça do almoço, para a esposa, ele sai e caminha um pouco. Mesmo com todas as atividades físicas, ainda sobra tempo para dedicar à mulher, aos três filhos, três netos, três cachorros e cinco passarinhos.

Desde os 15 anos jogando bola, caminhando sempre que pode (o tempo estando bom ou não), Pelézinho revela que não sente dor no corpo e não tem problemas de saúde. “Como pouca carne vermelha. Lá em casa o que tem quase todos os dias é peixe. E há mais de 40 anos que não fumo. Só a cervejinha que eu não largo, e agora, no inverno, um vinho é muito bom também”, comenta, entre risadas. Escolheu manter na rotina o que considera de melhor na vida. Fez do tempo um aliado. E segue sem arrependimentos.

 

Alegria é um ótimo remédio

O médico Vagner La Bella Marchi, que é especializado em Geriatria e Gerontologia, reconhece a importância de atividades físicas para a melhor saúde do idoso. Explica que muitos deles sofrem de doenças crônicas que podem apresentar melhoras com a prática de exercícios: diminuição na pressão arterial dos hipertensos, redução da glicose nos diabéticos e benefícios na parte ósseo-muscular. “O exercício é algo maravilhoso para a qualidade de vida na terceira idade”, garante.

Marchi ressalta a incidência de depressão entre os idosos. “Muitos, ao se aposentarem, perdem o interesse por outras atividades e se deparam com a limitação física. O idoso que sabe lidar com isso, aceitar que não tem mais a mesma disposição mas que pode ser útil em outras atividades, consegue agregar mais qualidade de vida”, destaca o médico. Ele ainda salienta a importância da prática de atividades que estimulem a convivência social, para que o idoso continue se sentindo parte do meio em que vive. A alegria e o ânimo podem ser a chave para uma vida melhor na terceira idade. 

 

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