Pedro Henrique Mendes é delegado de Tijucas há três anos. Segundo ele, a maior dificuldade é a falta de efetivo para trabalhar. Ele admite que precisa dar prioridade aos crimes mais graves, como homicídios e tráfico de drogas e acaba deixando os mais leves em segundo plano. O delegado conta que teve que deixar a delegacia fechada uma noite por falta de policiais no plantão e se coloca a favor da redução da maioridade penal para crimes graves. Confira:
Santa Catarina tem falta de efetivo na Polícia Civil para trabalhar nas investigações dos crimes. Em Tijucas, como está a situação?
A situação em Tijucas está crítica. A cada dia que passa a gente perde mais policiais. Teve um dia neste mês que eu tive que fechar a delegacia a noite, porque não tinha policiais para puxar o plantão. Geralmente a noite, a equipe é um único policial de plantão, então se alguém precisar da delegacia vai ter somente um policial atendendo as ocorrências. Isso dificulta o nosso trabalho.
Por que tem essa falta de policiais?
Porque os governos anteriores não fizeram a contratação. O governo atual está contratando, isso não pode se negar. Mas não é suficiente para a quantidade de policiais que está saindo. Só este ano está previsto para sair 300 policiais e vão entrar 400. Ou seja, efetivamente, só mais 100 policiais para as investigações.
Com pouco efetivo, é necessário priorizar. Quais as prioridades de Tijucas?
Desde que cheguei aqui a prioridade são os homicídios, os roubos e tráficos de droga. Ou seja, são os crimes mais graves. Por isso, os crimes não tão graves, como ameaças, discussões entre vizinhos e perturbação do sossego, não estão tendo prosseguimento. Estão aguardando.
Há dois anos Tijucas ficou entre as cidades mais violentas do Estado. No ano passado, tivemos cinco homicídios. Este ano já tivemos quatro. O senhor percebe um aumento na criminalidade?
Sim, na verdade a gente estava tendo uma quantidade menor de homicídios neste ano, mas neste último mês tivemos dois homicídios. Isso aumentou as estatísticas e a tendência é este ano piorar em reação a 2014, ter um aumento no número. Todos os homicídios deste ano, com exceção de um garçom que foi esfaqueado em uma churrascaria, tem relação ao tráfico de drogas. No entanto, dos quatro homicídios a gente só resolveu um. Os outros três não foram resolvidos. A gente ainda está investigando, mas com a deficiência de pessoal que a gente tem.
Tijucas é uma cidade com localização privilegiada, muitas saídas e de fácil acesso. Isso acaba facilitando a prática de crimes? Como inibir os bandidos?
Como Tijucas fica perto de Itajaí, Balneário Camboriú e Florianópolis a criminalidade vem pra cá. A gente tem o Jardim Progresso, que a gente sabe que tem pessoas de bem lá, mas que sempre foi um local em que foragidos se escondem. Foram feitas várias operações lá, várias pessoas foram presas, mas a gente sabe que há pessoas que ainda se escondem lá. O fato de Tijucas ter um presídio também prejudica. É uma coisa inegável. Com a vinda do presídio cresceu a criminalidade aqui, isso é o que me dizem, porque eu não estava aqui na época. Mas isso sempre faz com que a criminalidade seja acentuada na região. A vinda dos bandidos não tem como inibir, porque o crime está sempre se movendo, não é estático. Mas é necessário melhorar a investigação da Polícia Civil contratando mais pessoas. Porque na questão de viaturas e equipamentos, nós temos uma boa estrutura. Não temos policial para trabalhar.
Vocês tem dificuldade de entrar no Jardim Progresso e no Casarão?
Nenhuma. A polícia entra onde ela quiser.
Tijucas passou por uma onda de assaltos e furtos cometidos por adolescentes nos comércios. A Câmara dos Deputados rejeitou a redução da maioridade penal para crimes graves. O senhor acredita que reduzir a maioridade penal vai inibir os crimes praticados por adolescentes?
Eu fiquei assistindo a votação até uma hora da manhã na TV Câmara. Eu sou a favor da redução da maioridade penal para os crimes hediondos, como era a proposta que eles estavam debatendo. Eu não sei se vai inibir os crimes, mas vai dar uma resposta à sociedade. Não vamos ficar tão suscetível aos menores fazerem essas barbaridades que vem fazendo e saírem impunes. Então nesses crimes mais graves, eles seriam efetivamente presos. Eu pego como exemplo o latrocínio da Leandra, que fui um crime que chocou a cidade de Tijucas. Trabalhamos com afinco, apreendemos o menor que a matou, mas ele está na rua. Temos diversos casos de roubos que os adolescentes são apreendidos e em seguida liberados, porque a legislação não permite. Então é complicado.
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