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02 de Agosto de 2019 - 16:11:42

“Um dia eu vou olhar nos olhos do meu filho”

Vítima de um acidente num projeto social em Tijucas, Juan teve morte cerebral aos 17 anos. A mãe, então, autorizou a doação dos órgãos do menino
 
 
“Um dia eu vou olhar nos olhos do meu filho”

A missa de sétimo dia de Juan acontece hoje, às 19h30, na igreja matriz  

 

CLÁUDIO EDUARDO DE SOUZA 

 

Em um dia seu filho está aí, do seu lado, fazendo coisas comuns. No outro, simplesmente se foi. E cada detalhe cotidiano, que parecia tão simples, faz uma falta imensurável. Consegue se imaginar nesta situação? Foi o que aconteceu com a dona de casa Michele Rezende da Silva Corona, 35 anos, há exatos 10 dias. O filho Juan Miguel – com 17 anos, o mais velho dentre três– foi para a aula em um projeto social em Tijucas e, num acidente aparentemente inofensivo, foi do coma à morte cerebral. Num ato de amor, a matriarca autorizou a doação de órgãos. Foram retirados os dois rins, fígado e as córneas. “A doação de órgãos é uma forma de amar seu ente querido que se foi”, salienta a mãe, num gesto de altruísmo em meio à dor.  

Michele veio para Tijucas com o marido, três filhos e os pais, há quatro meses. Moravam em Pato Branco/PR. A irmã casou e veio morar na região. A família, então, viu a oportunidade de vir para se manter perto e, ainda, realizar um velho sonho de estar próximo do litoral. “Juan e o avô sempre sonharam em morar perto da praia”, conta. Desde então, moram no bairro XV de Novembro. Juan estudava no último ano do Ensino Médio, no colégio Cruz e Sousa, no período da tarde. À noite, tinha recém começado a participar do projeto desenvolvido pela Polícia Militar, na cidade.  

“O Juan era um menino de sonhos! Ele sempre foi um menino muito ativo. Fazia aulas de violão, de capoeira, tinha o sonho de trabalhar para poder ajudar em casa. Em Pato Branco, foi jovem aprendiz, mas aqui combinamos que ele se dedicaria aos estudos, para depois voltar a trabalhar”, conta a mãe que, quando soube da oportunidade do projeto na PM, logo indicou o filho e um sobrinho para se inscreverem.  

 

MORTE CEREBRAL

Há exatos 10 dias, Juan estava no projeto da PM de Tijucas, quando, num exercício bateu com a cabeça no tatame. Algo normal na prática de qualquer arte marcial. No entanto, não demorou para reclamar de uma forte dor de cabeça. E logo perdeu a consciência. Foi levado para o hospital daqui e, em seguida, transferido para Florianópolis. “Naquele dia mesmo, dentro de mim, eu já sabia que ele tinha morrido. Mãe não se engana! O Juan morreu naquela terça-feira e não na data que está no papel, de quando desligaram os aparelhos”, comenta a mãe.

Ela lembra que o primeiro neurologista a examinar o filho, falou que o caso era irreversível e não deu, sequer, 1% de chances. Após ser examinado por outros dois médicos que também não davam esperanças, a mãe quebrou o protocolo e, ela mesma, questionou sobre a possibilidade de doação de órgãos. Michele conta que, no sábado seriam desligados os aparelhos, enquanto que uma equipe médica viria avaliar a situação para saber quais órgãos poderiam ser doados. “Eu tinha essa decisão e meu pai, que era o xodó dele, fez o mesmo pedido. Só pedi a eles que não ‘judiassem’, que tirassem o necessário e fechassem ele da maneira mais carinhosa. É o meu filho!”, recorda a mãe, lembrando das lágrimas de parte da equipe médica.  

 

HORA DE DESPEDIDA 

“Ele sempre foi um menino obediente. E para morrer não foi diferente. Falei para ele que sabia que estava lutando, pensando em nós. Mas disse que ficaríamos bem e que se fosse para ele ir, poderia ir”, conta Michele, ressaltando que seria egoísmo da parte dela querer que o filho ficasse vivo a qualquer custo, vegetando numa cama com apenas 17 anos de idade. “Deus foi muito bondoso. Levou ele de maneira tão bonita e sem dor. Sentiu a dor de cabeça, treinou mais um pouco e logo ficou desacordado. Não posso pensar no que perdemos. Ao contrário, penso na bondade de Deus que nos permitiu ter 17 anos ao lado do sorriso mais lindo que vi na vida”, pondera a mãe, enquanto mergulha nas lembranças – ainda frescas – do riso do filho. 

 

ÓRGÃOS DOADOS

Michele estava disposta a autorizar a doação dos órgãos que pudessem salvar outras vidas. Foi avisada que o pulmão não poderia ser retirado por limitações da equipe médica. Já o coração, também não poderia ser retirado por ter sido afetado durante uma parada cardíaca. “Nós estávamos dispostos a doar, mas eu prefiro acreditar que o coração era tão puro, que precisava continuar com ele”, conta. 

Ela diz que, ao invés de procurar culpados, confiou a partida do filho aos desígnios de Deus. Tendo a fé como uma aliada para diminuir a dor, somando com o amor que demonstrou ao permitir que parte do filho se mantivesse viva, através da doação. “Foram doados os rins, córneas e fígado. Imagina o quanto estes órgãos não mudaram a vida de quem estava na fila de espera e os recebeu?” 

Entendendo que a identidade do doador só é repassada no caso de o receptor manifestar o interesse em saber, Michele tem a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, conhecerá aqueles que tiveram as vidas salvas por Juan: “a vida é um ciclo. Meu filho se foi, mas a partida dele serviu para que Deus atendesse às orações destas mães que esperavam um órgão para os seus. No momento certo, Deus vai nos mandar estas pessoas. Um dia eu vou olhar nos olhos do meu filho!”.

 

 

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