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A mesma mão que tirou os filhos dos braços de uma mãe, foi a que se estendeu para que esta mesma mãe recuperasse as crianças e a dignidade. A história de Rosely cruzou com a de Mirian quando ela estava no fundo do poço. Negligenciava os cinco filhos, enquanto usava drogas com o marido. Hoje, o casal é exemplo de superação.
Mirian Cota tem só 28 anos. E uma história de vida cheia de altos e baixos. Com o primeiro marido, quando tinha 14 anos, aprendeu a usar drogas. Começou direto com o crack. Com ele teve três filhos. Separou. E parou com as drogas. Quando conheceu o atual marido, estava limpa. Ele não. “Como eu já tinha sido usuária, depois de um tempo comecei a usar com ele também. Chegou uma fase que já não tinha mais consciência de nada. Não parava para pensar. Só agora é que vejo o mal que fazia aos meus filhos”, comenta a mãe – que tem cinco crianças entre 10 e dois anos de idade.
Rosely Steil é presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Tijucas. Ela conta que, quando se fala em violência contra as crianças, não se trata apenas de agressões físicas ou de abuso sexual. Na cidade, por exemplo, a maioria das ocorrências se referem à negligência dos pais, geralmente por causa do uso de drogas.
Foi Rosely quem, no comando do Conselho Tutelar, em abril de 2013, resolveu dar um basta às denúncias de que os filhos de Mirian viviam em lugar insalubre e sem comida enquanto os pais usavam drogas na própria casa. “Por uns dois anos essa história se arrastava. Ela não respondia aos pedidos que fazíamos para que melhorasse. Um dia eu dei um basta. Fomos lá tirar as crianças. O mais novo tinha dois meses, ela não queria soltar, tive que pegar à força. Era minha obrigação defender as crianças contra este tipo de violência”, recorda Rosely.
HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO
“O dia que ela tirou meus filhos, acabou com a minha vida”, lembra Mirian. No entanto, hoje ela compreende que aquele sofrimento foi o que fez com que ela e o marido mudassem. Depois que as crianças foram para o abrigo, o casal se afundou ainda mais nas drogas. Mas logo foi para a casa da sogra de Mirian, que se dispôs a ajudar na luta para recuperar os filhos e a dignidade. “Ela me procurou dizendo que queria as crianças de volta. Já tinha parado com as drogas, estava mais forte, dava para perceber a mudança. Eu disse que, para isso, ela teria muito que batalhar. E batalhou”, conta Rosely.
O marido de Mirian começou a trabalhar de garçom numa churrascaria da cidade. Ela, conseguia bicos limpando frutos do mar. Mas a atividade não era suficiente para que a Justiça considerasse um emprego estável. “Ninguém dava a oportunidade. Então confiei e coloquei ela para trabalhar como faxineira na casa da minha filha. Se mostrou uma ótima profissional”, salienta Rosely. E no fim do ano de 2013, os filhos de Mirian puderam passar uma semana na casa dos pais. E só depois de 45 dias, voltaram em definitivo para o lar – desta vez, digno de uma família. "Eles são exemplos de superação. Se todos os desfechos fossem iguais a estes, sairíamos recolhendo mais crianças”, ressalta a presidente do CMDCA. Pelo período de dois anos, a família de Mirian continua sendo acompanhada por Rosely.
NÃO SE OMITA!
A estimativa é de que apenas 10% dos casos de violência contra crianças e adolescentes, em Tijucas, sejam denunciados às autoridades. “Se não tiver a denúncia, não temos como agir. Ninguém precisa se expor, pode ser de forma anônima. Só não dá para ver acontecer e não fazer nada”, apela Rosely. Apesar de as denúncias ainda serem poucas, ela acredita que o número de registros tem aumentado com o passar do tempo graças à conscientização das pessoas.
ALERTA
Casos de violência sexual atendidos pelo Conselho Tutelar de Tijucas nos últimos 10 anos:
2005 – 9 / 2006 – 13 / 2007 – 11 / 2008 – 11 / 2009 – 23 / 2010 – 21 / 2011 – 9 / 2012 – 18 / 2013 – 40 / 2014 – 48
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