THIAGO FURTADO
Dia 13 de junho, feriado de aniversário de Tijucas, e seu Ivo Luiz Ancini, 60 anos, já está na rua desde às cinco da manhã. Carregou o carro com diversas caixas de vergamota e foi entregá-las a um comprador que as leva a uma unidade do Ceasa-SC. “Feriado aqui é domingo e olhe lá”, comenta.
Assim tem sido a rotina desde os nove anos, quando começou a ajudar os pais na lavoura, ainda na localidade do Moura, em Canelinha, onde nasceu. Antônio e Hilária trabalhavam em uma área que não era sua e mudaram-se para o Campo Novo quando conseguiram comprar um pedaço de terra para a família. O lugar era um deserto. “Cavamos a estrada à picareta. O primeiro caminhão que entrou aqui foi o do meu pai com a mudança”, garante.
Ivo cresceu na roça e assegura que não há como viver em outro lugar. “Isso aqui é a minha vida, eu não me dou bem fora”. A lida diária é o que lhe agrada e, entre sorrisos que escapam fácil, demonstra orgulho por aquilo que produz na terra que herdou dos pais. A variedade é grande: diversos tipos de laranja, vergamota, milho, aipim, batata doce, maracujá. A diversificação, segundo o agricultor, é essencial para quem vive como colono. Atento ao mercado, foi atrás de conhecimento para produzir pitaya, bonita fruta que anda na moda. “Hoje todo mundo planta essas coisas mais comuns. A gente tem que dar uma inovada”, afirma.
No trabalho permanente de plantar e colher, tem o apoio da esposa, Rose Maria Ancini, 54 anos, com quem é casado há 39. Tiveram duas filhas, Cristiani e Patrícia. Companheira de todas as horas, a esposa é quem ajuda a relembrar as histórias de uma vida baseada em muito trabalho e dedicação à comunidade.
MÚLTIPLAS FUNÇÕES
Foi a vocação por contribuir com o coletivo que levou seu Ivo a assumir o posto de coveiro do cemitério local quando o anterior faleceu. Ficaria por três meses, apenas para cobrir a ausência temporária. Acabou ocupando-se da funesta tarefa por 15 anos, além de cuidar da manutenção do cemitério, no que toda a família também acabava se envolvendo. “Cansei de ter que sair de festas em datas comemorativas. O meu dever me chamava, né?”, recorda.
Nem só de labuta vive o homem, porém. Ainda jovem Ivo aprendeu a tirar um som no acordeon. “Às vezes a gente reunia uma turma daqui mesmo e inventava uns bailes”, sorri. Na época da Festa do Divino saía acompanhando a bandeira e puxando a cantoria tradicional. A gaita também funcionava nos fins de ano, época de Terno de Reis, quando partia para o Canto Grande ou Zimbros, em Bombinhas, e até Brusque.
Depois de tanto tempo de trabalho, Ivo já vislumbra a possibilidade de aposentar-se e, ao menos, diminuir o ritmo. Até lá continua produzindo o máximo que pode, para manter a renda, o consumo dos seus e para distribuir entre quem lhe procura ou mais precisa. Quando realiza entregas em Tijucas, sempre arruma espaço para trazer alguma coisa para um conhecido ou doar para a APAE, por exemplo. “Isso é pra gente servir no mundo, fazer alguma coisa pelos outros. Tem pessoas pobres que a gente conhece, a gente ajuda”, reflete, com o grande coração que tem.
|