Em protesto, funcionários fizeram apresentação no pátio da unidade pedindo paz
CLÁUDIO EDUARDO DE SOUZA
Três dias após o tradicional “Dia da Família na Escola”, em que pais e alunos vão até as unidades escolares para integração, os funcionários do Centro de Educação Infantil (CEI) Maria Helena Machado, em Tijucas, foram surpreendidos com cenas de violência partindo de uma mãe de aluno. Era 13h15 da última terça-feira quando, após bater o sinal para a entrada das crianças em sala de aula, a mãe de uma delas agrediu fisicamente uma professora em frente da turma (com estudantes com média de 5 anos de idade). O caso foi parar na polícia.
Sandra Santos tem 54 anos e é professora do pré-escolar. Estava em sala de aula recebendo os alunos quando foi questionada por uma mãe, dizendo que outra criança havia batido em sua filha. Queria falar com o menino. “Falei para ela que não deixaria que ele falasse diretamente com a criança, que ela falasse então com a mãe dele, que estava chegando. Assim fizeram. A mãe do menino pediu desculpas, de forma calma disse que iria conversar com ele”, recorda Sandra.
Ela, então, pediu que a conversa entre as duas continuasse mais afastada da sala para que pudesse iniciar a aula. “Quando falei que tudo parecia estar resolvido, ela logo me chamou de incompetente e outras palavras deste tipo, e disse que se algo acontecesse com a filha dela, iria me ‘quebrar toda’. E em seguida já veio para cima de mim, deu um tapa na minha cara e me pegou pelo colarinho”, recorda Sandra.
Foi aí que, já percebendo a confusão, duas professoras que estavam próximas se colocaram entre a professora e a mãe (que não a soltava), como que fazendo um escudo. Nisto, acabaram também se machucando. “Eu nunca presenciei uma cena como esta, em 24 anos de magistério. Fiquei entre elas, porque sabia que a intenção dela era machucar o rosto da Sandra. Se nós não tivéssemos visto, a professora hoje não estaria em casa, estaria bem machucada no hospital. Porque ela não reagia à agressão da mãe”, conta a secretária da unidade, Valdirene Andrade, que foi uma das educadoras que formava um escudo, tentando proteger a colega de trabalho. Segundo ela, chegou a pedir auxílio para pais que estavam próximos, mas não a ajudaram. “Eles ficavam com celular batendo fotos e filmando, mas não ajudavam. Sequer pensaram que tinham crianças vendo aquilo tudo”, comenta.
Para conseguir conter a mãe, a diretora do CEI, Izabel dos Anjos da Silva, precisou segurá-la. “O que mais ficou na minha memória foi a cena da menina falando para ela: ‘mãe, não bate na minha professora!’. E a única coisa que a Sandra fazia era tentar segurar a correntinha que tem com os filhos dela no peito, para que não arrebentasse. Corta o meu coração lembrar. Em 28 anos de carreira nunca vi nada disso”, confidencia a diretora, em lágrimas com as memórias daquela terça-feira.
CASO DE POLÍCIA
Tão logo as agressões aconteceram, a professora agredida e as demais, que também foram atingidas pela violência, foram direto para a delegacia de polícia para registrar o boletim de ocorrência. Sandra está de atestado durante a semana, enquanto trata crises de hipertensão geradas pelo estresse. Chegou a ir para o hospital para ser medicada e também passou por atendimento psicológico. “O tapa na cara não me doeu tanto, quanto me dói pensar que toda aquela cena aconteceu na frente das minhas crianças. Eu trabalho com eles os valores, sempre falando sobre o respeito, sobre a paz. E eles não mereciam presenciar uma cena como esta”, comenta, emocionada cada vez que recorda do acontecido.
Apesar de a prefeitura de Tijucas não ter emitido nenhuma nota oficial sobre o caso, a diretoria de Comunicação do Município destacou que a secretaria municipal de Educação tem se posicionado e que “lamenta o ocorrido e apoia a professora, afinal, ela e todos os demais profissionais merecem respeito. Também porque nenhum motivo justifica este tipo de atitude, muito menos, o uso de violência. Além disso, apoia a professora por saber de sua extrema competência”.
APOIO DOS PROFESSORES
Pelas redes sociais, não são poucos os relatos de pais de alunos e ex-alunos de Sandra, salientando as qualidades da educadora e se dizendo inconformados em saber que algo assim aconteceu com ela. E também num gesto de união da classe, professores e funcionários da unidade em que o caso aconteceu, se reuniram no dia seguinte, durante a entrada dos alunos (quando os pais ainda estão no pátio) para realizar um protesto pedindo por paz nas escolas. “Precisamos mostrar que estamos de luto pela Educação. Só trocar a menina de escola não vai adiantar, queremos que seja solucionado de uma vez para que não aconteça isso com mais nenhum professor”, defende a diretora, pedindo que seja dado um basta à impunidade e à violência nas escolas.
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