“Nos ensaios, eu finjo que no espelho tem um monte de gente vendo”
CLÁUDIO EDUARDO DE SOUZA
Toda pessoa corre o risco de, para lutar por um sonho, precisar ir na contramão de opiniões e olhares contrários. Até mesmo para um adulto, é algo difícil de encarar. Imagine para uma criança. Mas o pequeno Miguel Quirino Lemos, hoje com 8 anos de idade, descobriu cedo que, para realizar seus sonhos, precisaria ter a força de gente grande. E teve. Há dois anos faz aulas de balé e já se apresenta por grandes palcos.
O interesse pela dança surgiu quando estudava no Sesc, teve uma aula experimental e ouviu a professora dizer que balé também poderia ser para meninos. Tinha cinco anos. E chegou em casa falando para os pais que queria dançar. Ia começar a fazer a primeira aula, no caminho encontrou uma vizinha e foi contar, empolgado, para onde estava indo. “Ela falou que balé era de menina, que era para eu ir jogar futebol. Eu chorei, chorei... Ela não entendia que eu só queria dançar melhor”, recorda o pequeno bailarino.
Por um ano, depois daquela conversa com a vizinha, Miguel adormeceu o sonho de aprender a dançar balé. Até que, em 2017, foi assistir a uma apresentação de uma amiga que fazia aulas na escola de dança Ballare’s, em Tijucas. Pediu para os pais e começou – dividindo as tardes de contraturno escolar entre as aulas de balé e os treinos de Taekwondo.
“Quando eu comecei as aulas, vi que era mais fácil do que eu pensava. Na minha primeira apresentação minha roupa parecia de toureiro e eu estava com um frio na barriga igual o Polo Norte, porque parecia que tinha um milhão de pessoas vendo”, lembra Miguel, que estreou em nada mais, nada menos que no palco do maior teatro de Santa Catarina: no Centro Integrado de Cultura (CIC).
AMOR PELA DANÇA
A mãe de Miguel, Valesca Machado Quirino Lemos, conta que, apesar de sempre ter admiração pelo balé, nunca pressionou o filho, sequer deu ideia para que ele fizesse as aulas. Tudo realmente partiu dele. “Quando ele pediu, nós apoiamos. E enquanto ele disser que quer dançar, estaremos ao lado dele. Lembro que no primeiro ano era o pai dele que trazia para as aulas e era mais impressionante para as pessoas o pai trazer do que o fato de ele fazer balé”, comenta a mãe. Ela confidencia que, nas apresentações, só de abrir a cortina, já se emociona.
ALUNO DETERMINADO
A professora de dança Thais Caroline Soares diz que, antes de Miguel começar as aulas, quando precisava da participação de algum menino nas coreografias, convidava alguns, mas que tinham movimentos e ações limitadas no palco, por não serem bailarinos. Agora, Miguel assumiu a posição de destaque.
“Ainda enfrentamos uma questão cultural muito forte por estarmos em cidade pequena e que ainda há preconceito. O que as pessoas precisam entender é que a aula faz com que ele desenvolva as capacidades dele, conhecendo o próprio corpo e a força de se expressar”, ressalta Thais, destacando a vontade e dedicação com que Miguel se entrega à dança. E ele explica de onde vem a segurança no palco. “Nos ensaios, eu finjo que no espelho tem um monte de gente vendo”, conta Miguel, dizendo que a imaginação é um de seus pontos fortes. O outro, fica claro: é a determinação.
PALAVRAS DO PAI
Eu penso que através da dança expressamos nossas emoções. A dança traz leveza, alegria, é uma forma de o corpo se expressar. Considero a dança muito importante para o meu filho. Ele é um menino alegre, extrovertido, espontâneo, cheio de energia. Quando ele dança, transmite isto tudo em seus passos. A cada movimento.
Mas nem tudo é lindo. Preconceito existe e ele também enfrentou. Quando ele resolveu dançar, ouviu que isso não era coisa de menino. Porém ele aprendeu, assim como ele aprende nas coreografias, que nem tudo é fácil. Aprendeu que preconceitos com meninos que dançam sempre vão existir. Mas no momento em que realmente decidiu dançar, foi se preparando para enfrentar qualquer situação e viu que a vontade dele era bem maior do que qualquer opinião.
Está sendo para mim uma experiência maravilhosa ver ele dançar. A cada passo, a cada movimento aprendido e a cada apresentação é uma nova emoção para mim. Fico muito feliz em ver ele dançar e fico muito feliz com ele dançando, que é algo que ele ama fazer. E eu, como pai, tenho muito orgulho dele. Meu nome é Thiago, sou pai do Pequeno Príncipe, bailarino Miguel.
Palavras ditas pelo pai de Miguel minutos antes de uma apresentação do menino, em que ele interpretou o Pequeno Príncipe.
|