Antes do tão aguardado primeiro choro do filho, os pais – mais especificamente a mãe – têm uma decisão muito séria a tomar: de que forma o bebê virá ao mundo? Se antigamente o parto normal era a escolha natural, agora, o número de cesáreas predomina. E a situação do Brasil preocupa. Estima-se que, ano passado, 55% dos partos foram realizados através de procedimento cirúrgico. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), este número caracteriza uma epidemia que coloca em risco a vida das mães e dos bebês.
Juliana Nascimento é jovem e saudável. Poderia ter feito parto normal, mas a insegurança e falta de informação na “hora H” a fizeram desistir e recorrer ao procedimento cirúrgico. “Minha filha chegou ao mundo através de uma cesariana indesejada. Eu sempre quis o parto normal, mas fiquei sete horas na maternidade sem poder beber água, ver minha família ou receber qualquer tipo de assistência. Depois de muita espera, tive de realizar cesárea”, conta.
O ideal, segundo a OMS, é que a taxa de cesárea seja de 10% a 15%. No Brasil, no Sistema Único de Saúde (SUS), este número é de 40%, e na rede privada passa de 80%. “Eu acredito na escolha consciente, quando a mãe recebe todas as informações necessárias e junto ao médico opta pela opção que a deixe segura. Eu não tive isso. É uma sequência de erros que coloca medo nas gestantes”, comenta Juliana, que tem 18 anos e deu à luz há nove meses.
NÃO É DIFERENTE
A epidemia do país, reflete em Tijucas. No ano passado, nasceram 661 bebês na maternidade Chiquinha Gallotti, 418 de cesárea e 243 de parto normal – quase todos pelo SUS. De acordo com o ginecologista e obstetra Rogério de Souza, a falta de profissionais qualificados para ajudarem as gestantes a ficarem mais confortáveis na hora do parto e o próprio estímulo dos médicos para a realização da cesariana contribuem para o alto índice do procedimento. “Pela dificuldade em dar assistência no trabalho de parto, que leva horas e necessita de acompanhamento, é muito mais cômodo para um médico realizar um parto agendado. Outro fator são as maternidades, que não têm estrutura para um trabalho de parto natural”, avalia.
A empregada doméstica Daiana Floriano, 29 anos, optou pelo parto normal desde o início da gravidez. E não se arrependeu. “Já na maternidade, eu podia ficar com a minha filha o tempo todo, receber visitas, caminhar... Enquanto que as que fizeram cesárea, não saiam da cama”, lembra Daiana.
O obstetra alerta para os riscos da cesárea – tanto para a gestante, quanto para o filho. “Para a mãe, a cesariana é uma cirurgia. Então ela pode ter infecção, sangramentos e outras consequências. Já o bebê pode desenvolver problemas respiratórios ou de prematuridade, muitos acabam sendo tirados antes da hora. O parto normal também tem seus riscos, mas proporcionalmente são menores”, destaca o médico.
Parto Humanizado surge como alternativa
“O corpo humano é uma máquina perfeita, não temos que intervir”
Aos 30 anos, Bethânia Flôres está grávida de cinco meses. E tem uma certeza: não quer ser submetida a uma cesárea. Há um ano e meio, deu à luz ao outro filho pelo parto humanizado. “A mulher é quem toma as decisões durante o parto, ela é a protagonista. O corpo humano é uma máquina perfeita, não temos que intervir em algo que a natureza preparou”, argumenta.
Antes disso, ela havia perdido dois bebês. E em um deles, por estar numa fase mais avançada da gestação, precisou passar por uma cesariana para a retirada. Sentiu a frieza do centro cirúrgico e teve ainda mais certeza que não queria dar à luz dessa forma. “Muita gente não faz o parto normal por falta de conhecimento. Confia no médico e, infelizmente, a maioria deles já induz as pacientes a fazerem a cesárea”, acredita Bethânia.
O parto humanizado, ao qual se submeteu, é semelhante ao normal. A diferença, segundo Bethânia, é que no parto normal ainda é o médico quem conduz a situação. Já no caso do humanizado, a mulher tem voz. “Se você está buscando um parto natural: não vá pela opinião dos outros, siga teu coração! Não é a razão que deve decidir, é a emoção, é o instinto, é nosso lado animal irracional que precisa se sentir em paz. O lado racional é a primeira coisa que nos abandona no trabalho de parto”, aconselha.
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