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05 de Junho de 2018 - 20:19:46

Os perigos de quem leva a vida na estrada

“Depois de tudo que eu já passei, eu ainda viajo porque preciso. Se eu pudesse evitar de estar na estrada, já tinha parado”
 
 
Os perigos de quem leva a vida na estrada
Alex já sofreu acidente, foi assaltado e perdeu o pai na estrada. Mesmo assim, segue trabalhando 
 
CLÁUDIO EDUARDO DE SOUZA 
 
Apesar de ter apenas 32 anos de idade, Alex Nandi já tem mais de dez anos de estrada. Acumula as conquistas da profissão, mas também já passou por momentos que demonstram as dificuldades de quem escolhe ser caminhoneiro: sofreu acidente, foi assaltado e, a menos de um ano, estava metros atrás quando o pai morreu na estrada, também a trabalho.  
Alex trabalhava num supermercado e, aos 21 anos, resolveu que trabalharia nas estradas na busca por uma renda melhor. Começou como empregado autônomo, na época trabalhando para quem hoje é seu sócio numa empresa de transporte e venda de ferro, em Tijucas. O itinerário era sempre o mesmo (que mantém até hoje): saía daqui com piso até o Rio de Janeiro e voltava de lá carregado com produtos siderúrgicos. Viajava quase 5 mil quilômetros por semana. Mas não reclamava. Ganhava comissão, então sabia que precisava viajar o máximo possível. 
Foi assim por mais de três anos, até que conseguiu comprar o próprio caminhão e seguir trabalhando por conta própria, no mesmo trajeto que já era acostumado. “Vendi um terreno e consegui comprar meu primeiro caminhão. Nesse momento a responsabilidade aumentou”, destaca Alex.
 
CHEGADA DA FILHA 
Casado, já era caminhoneiro quando teve a primeira filha. Hoje Isabeli tem sete anos. “Quando ela nasceu, tudo mudou. Começou a dar mais saudades de casa. Eu queria estar mais presente e não dava”, recorda, destacando as vezes em que precisou se ausentar de apresentações na escolinha e até mesmo de datas especiais como Páscoa e aniversários. 
Isabeli não esconde a preocupação que tem com o pai na estrada. Apesar de criança, tem o cuidado de deixar cartinhas na bolsa dele quando vai viajar e mandar mensagens. “Dia desses ela me mandou um áudio no whatsapp dizendo: ‘pai, você está ouvindo a minha voz. Mas se não prestar atenção na estrada, você não vai mais ouvir a minha voz’. Ela fica sempre preocupada comigo”, conta Alex.
 
SUSTOS NAS VIAGENS
A única vez em que sofreu um acidente, foi há dois anos. Estava em São Paulo quando tombou o caminhão. Na época, não sofreu nenhuma lesão, mas não esquece do susto. “A primeira coisa que vem na cabeça é a nossa família”, diz o caminhoneiro. Ano passado, passou por outro susto – mas desta vez com carro parado. Estava no Rio de Janeiro quando foi abordado por quatro homens armados. Não quiseram levar o caminhão. Só o dinheiro que tinha na carteira e o celular.
 
TRAGÉDIA NA FAMÍLIA 
Alex herdou a profissão do pai que, apesar de ter mais de quatro décadas de vida na estrada, não queria que o filho seguisse a mesma profissão, justamente por conhecer todas as dificuldades e riscos. E foi na estrada que os dois se despediram. 
Era um sábado à noite, 28 de outubro do ano passado. Alex estava a caminho do Rio de Janeiro. Pela BR-101, viu o pai passar por ele com caminhão carregado, fazendo o mesmo trajeto. Pouco depois, notou que um acidente grave acontecera metros à frente. O trânsito parou. Percebia que era algo muito grave. “Eu avisei para a minha mulher que tinha acontecido um acidente feio. Fiquei pensando porque o pai tinha passado por mim e não me avisou desse acidente. E começou a me dar um aperto no peito. Liguei para ele e nada”, lembra.  
Alex, então, começou a se comunicar com outros motoristas para ver se alguém sabia o que havia acontecido metros à frente dele, na BR-101, em Penha. Quando falaram as características do caminhão que estava em chamas, logo pensou que poderia ser o próprio pai e correu.  
“Três pessoas tentavam me segurar. Mas eu subi no caminhão, repetia para o policial que mandava eu sair: ‘é o meu pai que está aqui dentro’. Eu dava porrada na porta do caminhão pegando fogo, tentava de tudo, mas não via ele lá dentro e nem conseguia abrir a porta. Quando eu vi que não ia mais dar jeito, sentei no chão”, relembra, lutando contra a ideia de que alguém tenha um fim tão triste na estrada. “Nós, caminhoneiros, não aceitamos que alguém morra queimado daquele jeito. Ainda mais sendo o pai da gente... Que isso não aconteça com mais ninguém”, comenta.
 
SAIR DA ESTRADA 
Há três anos, Alex conseguiu abrir a própria empresa, em Tijucas, em sociedade com o primeiro chefe que teve no setor. Possuem quatro caminhões, têm funcionários, mas ainda precisam estar na estrada. “Confessor que hoje, depois de tudo que eu já passei, eu ainda viajo porque preciso. Se eu pudesse evitar de estar na estrada, já tinha parado”, confidencia. Um receio de quem sabe – e viu de perto – os perigos da profissão.
 

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