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Moradores fizeram protesto no último domingo
Desde que foi interditada, há pouco mais de três anos, a ponte Bulcão Viana – que faz o acesso entre os bairros Pernambuco e XV de Novembro – tem sido pauta de discussões. No último domingo, foi palco de manifestação de moradores, que exigem uma solução. Dias antes, a prefeitura de Tijucas anunciou o projeto para reconstrução da ponte, com a retirada da estrutura velha.
De acordo com o projeto apresentado pela administração municipal, orçado em cerca de R$ 5 milhões e que deve seguir para licitação nos próximos dias, a Bulcão Viana será retirada e uma nova, com características semelhantes, será construída no local. A justificativa da prefeitura é de que, ao fazer uma obra parecida, “o projeto de estrutura metálica vai manter o desenho original da ponte, preservando assim as características históricas”.
No entanto, há quem discorde de que a reconstrução possa ser considerada uma preservação às características históricas. Natural daqui, a arquiteta e urbanista Giselle Carvalho Leal pode falar com propriedade sobre o assunto. Além de conhecer a Bulcão Viana, ela é mestre em Urbanismo e História e coordenadora da pós-graduação em conservação e restauro do patrimônio edificado, na Univali. “É uma triste realidade no Brasil, a falta de um olhar mais atencioso e direcionado à preservação do patrimônio histórico. Infelizmente essa falta de atenção e de iniciativas voltadas à conservação também se reflete em Tijucas”, comenta.
Apesar de não ser tombada como patrimônio histórico no município, a Bulcão Viana (construída em 30 de abril de 1930), além de ser um dos cartões postais da cidade, tem valor histórico: foi a principal ligação entre o norte e sul de Santa Catarina durante muitas décadas, antes da construção da BR-101.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Segundo o Prefeito Elói Mariano Rocha, não foi possível restaurar a ponte Bulcão Viana em função do seu estado de conservação. É uma triste realidade no Brasil, a falta de um olhar mais atencioso e direcionado à preservação do patrimônio histórico. Infelizmente essa falta de atenção e de iniciativas voltadas à conservação também se reflete em Tijucas, e é o caso desta ponte, datada da década de 30, na qual a falta de preservação e manutenção contribuiu para que se chegasse a tal grau de deterioração.
Como profissional ligada às questões relativas à conservação e restauração do patrimônio edificado, questiono se antes de descartar a possibilidade de restauro, foi realizada alguma avaliação do real estado da estrutura para tal? E a possibilidade de retrofit - que se configura por ser uma modernização da estrutura adaptando-se às exigências atuais e preservando aspectos originais da obra - foi cogitada? Ou simplesmente essa decisão foi tomada ao se comparar ao caso da ponte Hercílio Luz? Visto que não se preserva, é comum priorizar a reconstrução a restaurar, devido aos custos deste tipo de serviço.
Alega-se também que “o projeto de estrutura metálica vai manter o desenho original da ponte, preservando assim as características históricas”. No entanto, esta afirmação está equivocada, visto que o termo preservar aplica-se apenas ao que é original, logo, no caso da construção de uma nova ponte, o que acontecerá será a tentativa de manter suas características estéticas remetendo ao passado, algo que na arquitetura pode ser chamado de pastiche, ou seja, um esforço para reproduzir um patrimônio, no qual seu real valor histórico não existe mais.
Giselle Carvalho Leal
Arquiteta e Urbanista - mestre em Urbanismo e História e coordenadora da pós-graduação em conservação e restauro do patrimônio edificado
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