CLÁUDIO EDUARDO DE SOUZA
Recém-chegado para assumir o comando da Polícia Militar em Tijucas, Major Éder Jaciel tem demonstrado, com ações e estratégia, que está focado em combater a criminalidade na cidade e aumentar a sensação de segurança. Em entrevista ao Jornal DAQUI, fala sobre o desafio de acabar com o que chama de “polo do turismo de drogas”, que teria virado a cidade de Tijucas, ao atrair usuários de drogas de toda região. E garante: vai restabelecer a ordem pública no município.
DAQUI – Apesar de características de cidade pequena, Tijucas apresenta índices de criminalidade que assustam. Qual o maior desafio no combate à violência aqui: seria o tráfico de drogas?
Major Éder – Eu já conhecia a realidade criminal de Tijucas, considerando que eu estava na posição de subcomandante do Batalhão. Evidentemente que não conheço a cidade nos seus detalhes, mas sei que não há uma explosão de crimes violentos, mas uma sensação de insegurança. Tijucas virou polo de turismo de drogas. Nas abordagens nós percebemos que várias pessoas de vários municípios vem a Tijucas exclusivamente para aquisição de drogas, vem de toda região: Itapema, Porto Belo, Bombinhas, Biguaçu, Canelinha, São João Batista, Nova Trento e Governador Celso Ramos. Eles vêm para adquirir drogas, porque se tornou um polo atrativo para isso. E só traz prejuízo à cidade. Dentre estas estratégias, uma das mais importantes estratégias que a Polícia Militar tem, nesse primeiro momento, é combater severamente o tráfico de drogas. Porque dele advém toda uma cadeia criminal, uma indústria do crime. O tráfico de drogas alimenta o furto, o roubo, o comércio ilegal de armas de fogo. Nós tivemos, na quarta-feira, em trabalho conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), pegamos mais de 2 mil munições 9 milímetros, de uso restrito de forças policiais e forças armadas. Além de alimentar a cadeia de crimes, traz uma sensação de insegurança à cidade. E isso reflete em tudo. Toda a cadeia produtiva de riqueza não consegue prosperar sem segurança pública. A Polícia Militar é essencial no controle da criminalidade. Se fala que educação resolve o problema, que saúde resolve o problema, moradia, infraestrutura... Evidentemente que sim. Mas construir escolas naquele local onde está conflagrado o crime organizado, não vai solucionar o problema neste momento. Então tem que neutralizar a atividade criminosa, para que não mais alimente a cadeia criminosa. É muito equivocado acreditar que os crimes que estão sendo cometidos são para comprar pão, porque não teve condições sociais. Não. A gente tem uma indústria multimilionária. O crime organizado movimenta muito dinheiro, envolve atravessadores, fornecedores, olheiros, segurança... Isso é o primeiro pilar a ser combatido para que possamos restabelecer a ordem pública.
DAQUI – Nos últimos dias, a PM tem realizado inúmeras barreiras em pontos estratégicos da cidade. Este procedimento é temporário ou deverá ser mantido permanentemente?
Major Éder – Enquanto eu estiver à frente do comando, isso será diário. Inclusive tenho que agradecer ao sargento Alvino e à prefeitura, por serem parceiros nas fiscalizações, com a Diretoria de Trânsito (Ditran). Eles têm nos apoiado, dentro do possível, nas nossas barreiras policiais. Nestas ações não verificamos apenas os documentos, consultamos o nome, se o veículo não é clonado ou furtado, se não está transportando drogas ou armas... Inclusive, em determinadas barreiras temos contado com o apoio do canil. O usuário de drogas, o marginal, o vagabundo, tem que entender que o Vale do Rio Tijucas se tornou terra infértil para ele. E sim terra fértil para as pessoas de bem, que vão andar corretamente. Há diferença entre infrator de trânsito e criminoso, mas uma coisa passa pela outra. As barreiras policiais são parte da estratégia do aumento da sensação de segurança. Como que pegamos, na quarta-feira, os marginais com as munições? Com barreiras policiais. Recuperamos pela manhã (ontem) um veículo furtado, prendemos foragidos, uma pessoa com mandado de prisão.
DAQUI – Uma reclamação comum às polícias é a falta de efetivo ou de estrutura. Qual a atual situação da PM em Tijucas?
Major Éder – O efetivo e o equipamento é muito aquém da necessidade. Os comandos estão cientes disso, não é uma culpa dos últimos governos e nem do comando. Nós ficamos muitos anos, de 1998 a 2002, sem inclusão de policiais. Isso é uma consequência de decisões políticas, uma consequência histórica. Para se ter ideia, em 2005 aqui tinham 60 homens, na sede de Tijucas. Hoje nós temos 27. Mas o comando geral da Polícia Militar, principalmente o subcomandante geral e o comandante do Batalhão, cederam oito homens para cá. Nós vamos criar um Pelotão de Patrulhamento Tático na região e a tendência, se criada a Guarnição Especial, é que, conforme for estabilizando a situação de efetivo na Polícia Militar, que deve ser em 2022, vamos melhorar esta situação. Mas a Polícia Militar tem um poder mobilizatório de 10 mil homens. Então, o comando da Polícia Militar, tem mandado efetivo para operações, veio Águia, veio Batalhão de Operações Especiais, o Batalhão de Choque e virão outros. Além do efetivo orgânico, é possível, em determinadas situações, fazermos uma massificação de policiamento em toda a região do Vale, com apoio de outras unidades, uma vez que é uma característica dos militares essa capacidade mobilizatória.
DAQUI – Não tem sido raras notícias de ações policiais, em Tijucas, em que a polícia tem sido recebida a tiros. A criminalidade parece estar cada vez mais “bem” armada. Sob seu comando, como a PM deve agir nestes casos?
Major Éder – Não existe área em que a Polícia Militar não entre. Todas as áreas são policiáveis, absolutamente todas! De fato, temos grupos criminosos que, por várias vezes, enfrentaram a Polícia Militar, como foi o caso da última sexta-feira. Enfrentaram a polícia com armamento de uso restrito, com arma que é considerada uma das melhores pistolas do mundo, que á Glock de 9 milímetros, de uso restrito das forças armadas e forças policiais, com seletor de rajada, por isso denominada de pistola-metralhadora. São marginais que, realmente, enfrentam a Polícia Militar. Mas este enfrentamento vai ser respondido, como foi respondido da última vez. A tropa que eu trouxe é uma tropa que é especializada, altamente treinada, com grande experiência em confronto armado. Então, certamente, o marginal que não obedecer a ordem e optar pelo enfrentamento, está assumindo o risco de perder a própria vida ou de ser gravemente ferido. Uma vez que a Polícia Militar, nestas situações, tem que agir. A nós cabe o estrito cumprimento do dever legal. Mas, nestas situações, havendo o confronto, ele vai ser respondido à altura, por homens altamente treinados e com muita experiência em combates armados.
DAQUI – Por fim, o que deve se esperar da PM de Tijucas sob o seu comando?
Major Éder – Pode-se esperar uma prestação de serviço de qualidade, com foco no cidadão, principalmente, e com a redução de índices criminais. A população quer mais policial? Não. Ela quer a ausência de crimes. Por isso nosso foco é na paz social, trazer tranquilidade às pessoas, para que você possa realizar suas atividades rotineiras, produtivas e de lazer. Este é o objetivo. Há dificuldades, inclusive com a precariedade das estruturas do quartel, mas com apoio da comunidade conseguiremos superar e trazer paz social e levar o crime a índices aceitáveis. Eu vim para cá a convite do subcomandante geral da Polícia Militar de Santa Catarina, que acreditava que o meu perfil profissional era o perfil que o Vale estava exigindo. Eu estava numa posição superior a esta, mas vim para cá para cumprir esta missão, uma intervenção. Esta situação da minha vinda para cá foi um convite e, com muita honra, eu disse sim. Missão dada é missão cumprida! E vou fazer o meu melhor. Tenho que destacar o apoio do Coronel Koglin e do Tenente-Coronel Evaldo, comandante do 12º Batalhão, que me alocou recursos que seriam impossíveis. E tenho que destacar que todos estes homens que vieram, vieram por conta da voluntariedade. Muitos deles eu treinei, muitos estiveram ao meu lado em combates armados, então além da admiração pessoal, foram voluntários. Vieram porque eu vim. É uma realidade interessante e que merece ser destacada.
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